quarta-feira, 4 de julho de 2018

Mundial de Futebol.


Nota prévia: não colocamos qualquer reserva ao apoio à Selecção de Portugal. Adeptos confessos de futebol e orgulhosos da nossa bandeira e do nosso País, não podíamos deixar de estar ao lado de quem nos representa no mundo. Mas apenas enquanto cidadãos!

Na Assembleia Municipal de Castro Daire, que decorreu no dia 25 de Junho de 2018, fomos surpreendidos, pelo facto do Executivo, não se saber “de cabeça” o valor que o Município pagou, pelas transmissões dos jogos de Portugal, no Jardim Municipal. Face a esta não resposta, começou a ouvir-se que cada jogo de Portugal, custaria ao Município, cerca de € 2.000,00.

Claro está que, procurando esclarecer o assunto, colocamos ao Executivo, por escrito, uma serie de perguntas sobre a veracidade desses rumores.

Afinal a ser verdade, a presença de Portugal na fase de grupos do Mundial de 2018, terá custado, pelo menos seis mil euros. Isto para não falar, noutras despesas com o apoio à selecção que ainda não vimos explicadas.

Mas mais! A ser verdade, então aquilo que, em 25 de Junho de 2018, parecia uma boa medida de gestão municipal (e na nossa óptica é a forma correcta de gerir os dinheiros públicos), acaba por ser absorvida por uma despesa que está longe de ser uma prioridade. Veja-se.

Na Assembleia Municipal foi autorizada a contratação de um empréstimo de cerca de cento e nove mil euros.

A justificação para essa operação foi, para nós evidente. O Executivo pretende contrair um novo empréstimo, com a duração de três anos, para pagar outros dois (anteriores e no mesmo valor) e que terminariam dentro desses três anos. Com esta simples operação, o executivo poupará cerca de mais de cinco mil euros, nos juros contratualizados.

Dizendo de outro modo, o Município, mantendo os empréstimos anteriores até ao seu fim (no segundo semestre de 2021), pagaria cerca de € 7.510,00, de juros contratualizados. Contratando o novo empréstimo, pagará, no fim de 2021, cerca de € 1.720,00, de juros. O que significa que, nos próximos 3 anos, haverá uma poupança efectiva de cerca de € 5.790,00.

Boa medida, pensamos nós, quando nos foi apresentada. Afinal, mesmo parecendo pouco relevante, para os orçamentos municipais (cerca de 0,01% da média de despesa paga pelo Município nos últimos 10 anos), é sempre bom que a poupanças se façam, em despesas que não retirem direitos às pessoas, como os juros bancários.

Porém, a ser verdade que as transmissões da nossa Selecção, na fase de grupos do mundial, custaram, cerca de € 6.000,00, para que serviu a poupança?

Se o malogrado jogo de Portugal contra o Uruguai, teve esse custo, será sensato gastar-se num ano (cerca de oito mil euros), mais do que se poupará nos próximos três?

Por outro lado, se na transmissão televisiva do jogo Portugal-Uruguai, que decorreu dentro das instalações do Auditório Municipal, não tivermos tido esse custo (eventualmente por terem sido usados meios só do Município), porque não se fez sempre assim?

Recordaremos, sempre, sempre as palavras de Arrigo Sacchi: «o futebol é a coisa mais importante, daquelas que menos importância têm». Máxima que deveria estar presente, quando se tomam decisões de aplicação de recursos não ilimitados

Carlos Bianchi

(Por opção e convicções próprias, escrevo segundo as regras anteriores ao acordo ortográfico)

quinta-feira, 3 de maio de 2018

Porque quem nos elege assim o exige


Dizem os teóricos da comunicação que, quem emite uma mensagem deve evitar falar dos assuntos, de forma pessoal e apaixonada, para evitar erros na interpretação da mesma. Dizem, também, que devemos evitar falar de algo, sempre que, quem ouve, lê ou vê, possa retirar a conclusão de que nos estamos a auto-elogiar.

Concordo com estes princípios, mas, neste texto, irei falar na primeira pessoa, de um assunto em que imprimirei a minha visão e experiência pessoais. Mais, fá-lo-ei da única forma que conheço para encarar a vida: de forma livre, frontal, directa e plena de convicções.

Escrevo poucas horas após ter participado na Assembleia Municipal de Castro Daire de 23 de Abril, enquanto membro da mesma. E a poucos minutos da celebração do dia da Liberdade que apesar, de ter sido apropriado por alguns, é de todos nós.

Eleito por indicação do CDS – partido de que sou, convictamente, militante, pese embora tenha a minha opinião e mantenha, em pleno, o direito a expressá-la, sem quaisquer limitações e reservas – poderia ter, há muito, feito nota pública da minha tomada de posse, que ocorreu em 23 de Outubro de 2017.

Não o fiz, entendo que tinha a obrigação de tomar posse e dedicar-me ao órgão autárquico. Não pela honra de ser deputado municipal, mas porque todos os que votaram, assim, o exigem. É que, bem vistas as coisas, o exercício de qualquer cargo político, que decorra de eleições, exige, dos eleitos, acima de tudo, espírito de missão, vontade de servir quem nos elege. Tão só!

Diferente intenção presidirá a quem exerce cargos políticos que dependem, não do povo, mas de uma nomeação, assente em critérios, ocultos e não explicados. Mas disso, ainda, não falarei. Por ora e só por agora!

Mas voltando ao assunto que me traz aqui, volvidos 6 meses, na Assembleia Municipal foram já discutidos vários assuntos, todos de interesse do concelho, embora nem todos sejam dominados pelos munícipes. E assuntos houve, que apesar de discutidos, não foram alvo de qualquer deliberação, porque correspondem, unicamente, a opções e competências próprias do Executivo.

Mas falemos da discussão de dois instrumentos que, apesar de muito técnicos, nos dizem respeito: os documentos de previsão para 2018 e os documentos referentes à gestão de 2017.

Comecemos pelos planos previsionais para 2018. Estes apesar de tudo, têm algumas semelhanças aos dos anos anteriores. Compreensivelmente, porque realizados pelo novo Executivo, poucos meses após a sua tomada de posse. E sem ainda os dados completos da execução orçamental de 2017. Não havendo tempo para que neles se imprimissem, desde já, as opções políticas do programa eleitoral, não poderiam ser muito diferentes. Convicto de que deveriam responder às preocupações e expectativas dos Castrenses, percebi que o que não fazem totalmente. Ainda assim, entendi que lhes devia dar o benefício da dúvida e aprovei-os.

Aprovei, também, os relatórios de gestão e de contas referentes ao ano de 2017, porque entendo que os mesmos refletem o estado das finanças do nosso Município.

O Município dispunha, em 2017, de um orçamento na ordem 28,6 milhões de euros. Recebeu 56,67% do previsto (a terceira mais baixa taxa de execução, desde 2010). Pagou 54,12% do orçamentado (a mais baixa taxa de execução, desde 2010). Executou apenas 36,67% das Grandes Opções do Plano. Assumiu compromissos na ordem dos 31,6 milhões de euros, dos quais 10,3 milhões de euros serão imputáveis aos exercícios de 2018, 2019 e 2020. Teve um resultado líquido do exercício negativo (menos € 2.092.657,75). Aumentou a sua dívida em 40%. A tudo isto acresce que existem particulares e empresas que reclamam o pagamento de € 757.369,00 de fornecimentos sem que estejam documentadas as autorizações de realização de despesa. Valores que não estão ainda reflectidas nas contas, apesar de referidos nos documentos posto a votação. Apesar de tudo isto, em 01 de Janeiro de 2018, existia um saldo de gerência positivo de cerca de 4,4 milhões de euros, sendo que destes cerca de 4 milhões de euros se referem a valores que estão consignados a despesas (nomeadamente os referentes aos empréstimos para realização de obras especificas) e responsabilidades (por exemplos valores referentes a cauções). Pelo que o Município não pode despender, livremente desses valores.

Dizendo, de outro modo, os documentos de gestão do ano de 2017 revelam que existem dificuldades a que o Executivo tem, necessariamente, de responder. Até porque sem equilíbrio financeiro, não será possível responder às expectativas de todos. Mas estavam em condições de ser aprovadas, embora com algumas reservas. Foi o que fiz, votando a favor da aprovação dos documentos e explicando esse meu voto, na declaração de voto que elaborei e subscrevi, em conjunto, com vários deputados municipais do grupo parlamentar do PSD.

Aqui chegado, cumpre-se-me apenas dizer votei, a favor dos documentos, na convicção de que o fazia em consciência, pelas razões explicadas. Mas também com a certeza que estão ultrapassadas as singularidades que se colocaram, até aqui.

É que, de futuro, deixam de existir quaisquer justificações para que se não aprenda com o passado e se não expliquem os fundamentos para as decisões tomadas. E cá estaremos, para a cada momento, se reflita sobre o assunto que vier à discussão, sempre com vista ao interesse dos que nos elegeram.

Mas, nada de novo, aí. Pois, ainda nesta última Assembleia Municipal, todos os deputados municipais tiveram ocasião de aprovar duas moções, apresentadas por deputados do PS, que tinham como assuntos a necessidade urgente de requalificar a EN 225 e a Escola Secundária de Castro Daire. E aprovámo-las porque (e bem) as mesmas foram colocadas a votação, por proposta da Mesa (cuja justificação me coube a honra de fazer) e por decisão da Assembleia, que, cumprindo o regimento, admitiu a sua inclusão na ordem de trabalhos. Os assuntos exigiam, pela sua urgência essa tomada de posição e os deputados, souberam (e bem) colocar-se ao lado do Concelho.

Para terminar e porque já vai longo o texto, a propósito de uma velha, estafada, mas sempre actual ideia – o preconceito de que as pessoas de qualidade se afastam da política, por causa das quezílias e questiúnculas, sem interesses para o cidadão comum – digo que, assim, não é. Seja porque dizer isso é cair na mais popularucha demagogia e, se dito por um político é um exercício de autoflagelação desusada. Seja porque acredito que todos os que se colocam, efectivamente, se colocam ao serviço dos seus cidadãos, não se afastam da política e exercem os seus cargos com o espírito de missão que se lhes impõem. E, prova disso, é a Assembleia Municipal de Castro Daire.

NOTA FINAL: foram aprovadas, na Assembleia da República, para discussão em plenário, os projectos de resolução do CDS, PSD e PEV, sobre as obras na escola secundária de Castro Daire.

Carlos Bianchi

(Por opção e convicções próprias, escrevo segundo as regras anteriores ao acordo ortográfico)

quarta-feira, 18 de abril de 2018

Obras necessárias na Escola Secundária de Castro Daire



Na sequência do projecto de resolução que apresentou na Assembleia da República, o deputado do CDS-PP, Hélder Amaral, deslocou-se, no passado dia 09 de Abril a Castro Daire, para se inteirar das necessidades do nosso estabelecimento de ensino.

Acompanhado por Carlos Rodrigues, presidente da Comissão Política Concelhia do CDS-PP, por Carlos Bianchi, deputado municipal do CDS-PP e por Cristiano Coelho, vice-presidente da Comissão Política Distrital, Hélder Amaral, quis, assim, verificar, no local, quais as obras que urgem ser realizadas e conhecer os desafios que se colocam à direcção da Escola.

Recebido pelo Directo e pelo Subdirector do Agrupamento de Escolas de Castro Daire, os professores António Luis Ferreira e Saúl Balceiro Ferreira, Helder Amaral, pode verificar a urgência em realizar obras de substituição de canalização, reparação nas fachadas dos edifícios, de melhoramento de isolamento das salas e substituição do piso.

Tais obras visam que a comunidade escolar possa ter melhores condições, para a realização da missão de formar os nossos jovens e dotá-los dos conhecimentos necessários, para a sua realização, enquanto pessoas e enquanto futuros quadros do concelho.

Na visita puderam os responsáveis políticos do CDS-PP saber, ainda, que a Escola Secundaria, não foi contemplada com a realização de obras, nos programas de investimento da Parque Escolar ou da Comunidade Intermunicipal Dão-Lafões.

Defensores do princípio da autonomia das escolas, na sua gestão e desenvolvimento dos programas de formação, foi, com preocupação que, os dirigentes do CDS souberam, também, que, uma grande, parte do orçamento corrente do agrupamento escolar é, hoje, absorvido pela realização de pequenas obras de conservação.

Obras que o Governo deveria realizar, libertando assim verbas para que possam ser empregues na função lectiva e na vertente educativa.

Munido com as informações e imagens sobre a degradação da Escola Secundária, pôde o deputado Helder Amaral, no dia 17  de Abril, discutir o projecto de resolução que apresentou na Comissão de Educação e Ciência, em que se recomenda ao Governo a realização urgente das obras.

O projecto de resolução foi ainda acompanhado, pelas iniciativas do PSD, PCP e do Partido Ecologista Os Verdes

À hora em que se fecha este texto, não se conhece ainda o resultado da votação das iniciativas partidárias, mas, esperamos que os diversos partidos tenham obtido o consenso necessário à aprovação da recomendação de realização de obras, na nossa Escola. E, com isso, seja dado um sinal evidente ao Governo da necessidade de olhar para Castro Daire, como uma terra que merece especial atenção.

Algo que o Concelho bem precisa e pelo qual anseia há muito.

Para terminar, o CDS-PP e os seus responsáveis, agradecem a amabilidade da direcção do Agrupamento de Escolas, em recebê-los e dar as explicações necessárias. O que revela bem o espirito de colaboração que todos devemos desenvolver a bem de Castro Daire.

Carlos Bianchi.

terça-feira, 20 de março de 2018

Não há fumo, sem fogo


O provérbio popular é, sobejamente, conhecido e não carece de qualquer explicação. E o povo tem razão, quando usa a sua experiencia empírica, no domínio da realidade física.

No entanto, quando transportamos este provérbio para outras realidades, a já não será assim tão linear. Falemos, por exemplo, da constituição de arguido, na realidade jurídica portuguesa.

Todos nós, a dado momento, podemos ou já fomos constituídos arguidos. Não estranhem, caros leitores, porque isso não significa que somos todos uns monstruosos criminosos. Pensemos, por exemplo, o simples facto de nos ser comunicado um auto de notícia por excesso de velocidade, por estacionamento indevido ou por uso de telemóvel, durante a condução. Com este simples facto, somos constituídos arguidos, num processo de contraordenação.

Claro que, quando ouvimos falar na constituição de arguido, regra geral, é no contexto penal. E é aí, malogradamente, que se instala um estigma contra a pessoa que é visada. Tentemos desdramatizar o facto!

A constituição de um sujeito, enquanto arguido, tanto em contexto penal, como contraordenacional, ocorre, em vários momentos. Mas, em especial, é obrigatória quando é levantado um auto de noticia, que o dá como autor de um ilícito e lho é comunicado. É o caso das notificações das coimas que falamos. Mas também é o caso de quando, somos notificados, em interrogatório, da existência de uma queixa, contra nós e dos seus fundamentos.

Acontece sempre? Claro que não! Pode dar-se o caso de ser apresentada uma queixa, contra uma pessoa que, não estava no local, na data e hora dos factos e tal ser conhecido de todos. Ora, tal queixa é manifestamente infundada, e não disparatada, como já li em jornais, recentemente, pelo que o visado não é constituído arguido.

Voltemos aos casos em que há a constituição, enquanto arguido e ao titulo do nosso texto.

É caso de dizer-se que “não há fumo, sem fogo”?

Na voragem dos dias tendemos todos a dizer que sim. Mas se pararmos um bocadinho e pensarmos bem, verificamos que não.

Primeiro, porque, no momento de constituição, enquanto arguido, nem sempre estão solidificados os indícios que nos dão como autores de um ilícito. Carecem os factos de prova, de apreciação, de julgamento se assim quisermos.

Segundo, porque a constituição de arguido, ocorre sem que, quem o faz, tenha de apreciar a nossa defesa. Por exemplo e voltando aos nossos exemplos, imaginemos a notificação do auto de noticia por violação da condução em excesso de velocidade, feita ao dono do automóvel. É automática, constituindo-o como arguido e só, depois, pode o arguido vir dizer que o carro era conduzido por outra pessoa.

Terceiro, pode até acontecer que, a investigação que se segue à constituição de arguido, resultar num arquivamento.

Ou seja, e concluindo, nas relações humanas, nem sempre quando há fumo, tal significa que há fogo.

Carlos Bianchi

Advogado

terça-feira, 13 de março de 2018

O nosso Património

A propósito da mais recentes noticias sobre o estado da Ponte 25 de Abril e das obras necessárias, à sua manutenção, deparámo-nos com uma realidade premente – como encaramos o nosso património e qual a sua prioridade nas nossas preocupações?

Começamos por dizer que o património de que falamos não é, apenas, constituído pelos bens físicos de que, de uma forma ou outra, utilizamos no dia a dia. A estes acrescem os nossos valores, as nossas convicções e as nossas tradições.

Assim, constituem o nosso património o respeito pelos símbolos da nossa pátria, a matriz dos valores a que devemos obediência, aqueles momentos que vivemos, entre outros. E, sem qualquer dúvida, que, no nosso património, entram, também, as obras de arte, edificadas ou adquiridas, por nós e pelos nossos antepassados, que pretendemos deixar para os nossos descendentes.

Olhando assim para o património, não deixamos de considerar que, infelizmente, não lhe dirigimos o melhor do nosso tempo, nem a necessária atenção. Hoje, cada vez mais perdemos a noção da importância que ele deve ter, no nosso dia-a-dia.

Não acredita, o amigo Leitor?

Há já algum tempo que, no edifício do Tribunal de Castro Daire, esvoaça uma Bandeira Nacional, puída e esfarrapada. Passamos por ela, distraídos e sem a vermos, habituados à sua triste existência. Não será já tempo de ser substituída?

Há muito que, em Portugal, a propósito de futebol, surgem discursos radicalizados, violentos e sem qualquer assomo de desportivismo. Falamos do que alguém disse ser a “coisa mais importante de todas as coisas que importam coisa nenhuma”. Não é já tempo de vermos o futebol como o que, na realidade, é – apenas um desporto?

Regressando a Castro Daire, um edifício, património nacional, como o Mosteiro da Ermida, está votado, há anos, a um inexplicável desconhecimento. Trata-se de uma obra de arte, muito singular, pouco divulgada e pouco conhecida do público, pese embora o esforço dedicado de muitos que o estudam e estudaram. Obra edificada, aliás, muito próximo da rota do Românico, mas ignorada por esta. Não será já tempo de tentar, com o seu proprietário, fazer divulgar esse monumento e, com isso, trazer ao concelho mais visitantes, mais investimento e maior desenvolvimento?

Finalmente, a propósito de algumas posições públicas sobre, por exemplo, as touradas há quem se horrorize pela defesa da tradição tauromática. Mesmo quando (e bem) defendem, apreciam e publicitam tradições como as nossas Lutas de Bois. Não será tempo de refletir sobre essa incoerência?

Estes nossos 4 exemplos servem apenas para provocar a reflexão sobre que prioridades damos ao nosso património, material e imaterial, comunitário ou pessoal. Em suma, ao nosso quadro de referências que queremos deixar aos nossos filhos e netos.

E, como todas as nossas publicações, expressam a nossa, singular opinião, que, valendo o que vale, nos vincula, individualmente. Claro que haverá sempre quem, que sobre isto, faça uma leitura, pessoal e que reflete a sua própria convicção, diferente da do autor. É o problema de qualquer comunicação, consciente, livre e voluntária – exige sempre um emissário e um receptor e, se escrita, será permanente. Umas vezes ignorada, outras vezes hipervalorizada.

É a vida!

Carlos Bianchi

entre-o-montemuro-e-o-paiva.blogspot.pt


terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Falta de Memória


Há fenómenos difíceis de entender e de explicar, até por que, normalmente, tem plúrimas causas e podem ser evidencias de diferentes realidades.

Um desses fenómenos é a falta de memória, na sua vertente de memória selectiva.

Um exemplo:

Imagine-se que um cidadão, presidente da direcção de uma associação, em período de eleições autárquicas, decide fazer parte de uma lista partidária, a uma junta de freguesia. O mesmo cidadão decide, ainda, manter-se nas suas funções institucionais, durante a campanha eleitoral. E, felizmente, para o concelho, o partido politico, pelo qual aquele cidadão se candidatou tem o pior resultado de sempre, perdendo as eleições para o Município e para a Freguesia.

Vida difícil para aquele cidadão e aquela associação, perante os vencedores!

Volvidos quatro anos, o mesmo cidadão, ainda presidente da direcção da mesma associação, decide não integrar qualquer lista partidária, nem fazer campanha ou apoiar, explicitamente, qualquer força politica. Mas, em plena campanha eleitoral, promove, em conjunto com a direcção a que preside, um evento, com interesse para a associação, para o qual convida o Presidente de Câmara, ele sim candidato de novo. Nesse evento, bem ou mal, o Presidente de Câmara, decide ser a figura central do evento e o seu discurso é uma apologia ao voto, nele próprio e no seu partido. Azar dos Távoras, finda a noite eleitoral, o partido, pelo qual o cidadão se candidatou, quatro anos antes, vence as eleições. E o Presidente recandidato é derrotado.

Resultado: Os vencedores, escolhem esquecer-se que, no passado, aquele cidadão, deu o corpo às balas, pelo seu partido e optam por o criticar, por ter permitido ao adversário decidir fazer politica, num evento para o qual foi convidado por ser Presidente de Câmara.

De novo, vida difícil para o cidadão e para a associação!

O exemplo é, naturalmente, uma ficção, cuja semelhança com a realidade é produto de uma coincidência. Mas permite-nos verificar que a memória selectiva de alguns, aliada a um real azar, na escolha dos nossos comportamentos, leva dificuldades que podiam e deviam ser evitados.

Mas espelha também uma realidade muito própria do ser humano: a escolha de sentimentos que fazemos no nosso percurso quotidiano.

Os vencedores podiam conduzir-se por sentimentos de magnanimidade, de respeito pela opinião diversa e pela gratidão, para com quem, no passado, esteve com eles em tempos muito difíceis.

Mas não!

Escolhem a mesquinhez, a tacanhez, a ingratidão, a soberba. E, acima de tudo, escolhem confundir a nuvem com Juno, prejudicando o todo, pela conduta de uma sua parte.

Como diria o Secretário Geral das Nações Unidas, é a vida.

Carlos Bianchi

domingo, 4 de fevereiro de 2018

Da presunção da inocência à certeza na culpa


Comecemos pelo que, parecendo óbvio, há muito anda esquecido, pelas terras lusas. Ninguém é culpado, apenas, por aparências. Ninguém deve ser considerado culpado, sem que tenha sido julgado. Posição, demagogicamente, declarada, como, politicamente, correcta, a minha. Sê-lo-á! Mas, às malvas, as opiniões dos paladinos da justiça popular.

O arguido ganha, no direito português, essa condição, quando,  contra ele, corra um processo, em que se verifique a existência de indícios sérios que fundamentem uma suspeita de que praticou um crime.

Repare-se que a lei fala em meros indícios , ainda que depois exija que sejam sérios. Todos os supostos paladinos da Justiça, sustentam o seu discurso, na expressão sérios. Com isso, pretendem dizer que, se não houvesse essa exigência – a da seriedade –, nunca viriam a terreiro, defender a crucificação pública de quem é arguido (muitas vezes, com a hipocrisia de quem diz “alegadamente”, “alegado” e batendo no peito, dizendo que observam a “presunção da inocência”).

Do que se esquecem é o que significa a palavra “indício” e confundem-na com a palavra “prova”. Ora, o indício é o «sinal definido pela relação de proximidade com aquilo que significa», ao passo que a prova «é aquilo que mostra ou confirma a verdade de um facto». Parecem coisa semelhante. Por vezes, é possível que um indício se torne prova. Mas na realidade, quer material, quer jurídica, não o é..

O indício, por muito sério que seja, apenas, é uma aparência de realidade. Dizendo de outro modo, se, num dado espaço, encontramos uma pegada de um sapato de homem, da medida 44, próxima do lugar onde se encontra um cadáver e temos um suspeito que calça o 44, aparentemente, este pode ser o autor do crime.

Mas será esse indicio, forte o suficiente, para servir de fundamento à nossa convicção de que aquele suspeito, cometeu aquele crime? Se partimos do principio de que quem investiga, no decorrer do seu trabalho, afastou todas as outras hipóteses, também elas lógicas, sim.  

Mas e se verificarmos que o investigador não afastou essas outras hipóteses? Claro que o indicio existe, mas não prova que quem cometeu o crime foi aquele suspeito em concreto. Pode gerar a suspeita, mas, em boa-fé, não é conclusivo.

O que faz então a investigação, nestes tempos mediáticos? Fácil. Viola o segredo de justiça, remete para a comunicação social a notícia de que o suspeito é fulano, diz que tem indícios suficientes (quase sempre sem indicar quais são ou quando o faz, fá-lo, truncadamente) e depois espera.

Espera a voragem dos acontecimentos, espera que o juízo da opinião pública gere a pressão sobre quem decide e então, procede como, na Roma Antiga. Lança os suspeitos aos leões e fá-lo perante um público, humano e imperfeito, isto é, sedento de sangue e de violência.

O possível passa a verdadeiro. As imperfeiçoes da investigação são olvidadas e tudo o resto passa a inverosímil, por não caber no preconceito.  Assim se faz do arguido, a quem vários direitos são atribuídos, na sua defesa, um indesculpável criminoso. De presumível inocente passa a, certamente, culpado. E nós aplaudimos acriticamente!

Carlos Bianchi

terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Ano Novo! Vida Nova?


O fim de ano é, sempre, uma época para se viver em família e em festa e, quase sempre, uma altura em que se fazem balanços e se formulam novos propósitos e objectivos para o futuro.

Falando de política, após um ano de eleições autárquicas, que o voto popular trouxe novidades e renovação, é demasiado cedo para se fazerem balanços. Assim, a melhor opção é sempre o refúgio no lugar comum. Mudamos? Esperamos que para melhor! O que foi feito terá, certamente, uma explicação e aguardamos por ela, de modo sereno e expectante. Oxalá tal explicação não tarde muito!

Isto dito, é hora de formular as resoluções para o novo Ano.

1ª – Devolver a palavra a quem deve decidir.

Num ano em que somos chamados a determinar, em várias instituições, os destinos para os próximos anos, nada melhor que o nosso primeiro objectivo seja o de respeitar a democracia. Sem jogos mais próprios de caciques e não de cidadãos. Sem outro objectivo que não seja assegurar a continuidade das instituições e, apenas, por apelo ao sentido de serviço público que deve nortear os candidatos.

2ª – Caminhar sempre acompanhado da liberdade e da responsabilidade.

São estas as duas companheiras de viagem que nos devem, sempre, acompanhar. Já o eram antes, continuarão a sê-lo agora. Não podemos autolimitar-nos, nem ceder a outros interesses. Até porque, salvo o devido respeito, perante tais princípios, nenhum “outro valor mais alto se levanta”.

3º - Dar voz a quem dela mais precisa.

Na verdade, nem se trata de um propósito novo. Será a apenas o continuar do caminho de ontem. A obrigação de quem quer servir é escutar, compreender e emprestar a sua voz aos seus concidadãos. Isto para que estes possam ser escutados pelos que exercem o poder. Até porque muitas vezes se esquecem do seu papel de mandatários, de representantes.



Haveria mais que dizer, certamente. Mas teremos, por certo, outros momentos para o fazer.



Bom Ano

Carlos Bianchi