terça-feira, 18 de março de 2014

500 anos de História, uma realidade semelhante

No dia 14 de Março de 2014, Castro Daire assinalou a reforma manuelina do foral da sua vila, hoje sede de Concelho.
Nas comemorações, quem rege o Município, afirmou que a concessão do foral manuelino é um marco na concessão de autonomia municipal às gentes de Castro Daire. No discurso oficial foi ainda louvada a persistência e a força do nosso povo e proferiam-se palavras de esperança na construção de um Futuro melhor para os Castrenses.
Conhecer o nosso passado permite, desde logo, ter argumentos e elementos para delinear um projecto e uma estratégia para os tempos que ali vêm. Mas esse conhecimento exige que ultrapassemos o obvio e vejamos efectivamente o que se passou.
A concessão inicial das cartas de forais constituiu, efectivamente, a génese da autonomia concelhia. De facto, foi com os forais que se iniciou a libertação do jugo dos senhores feudais e se iniciou a autonomia municipal de várias terras que os receberam. Foi também com os forais concedidos que se estabeleceu o governo dos territórios pelos concelhos de vizinhos, sendo estes as autoridades que exerciam, idealmente, o poder, em nome e no interesse, do povo daqueles territórios. Esse espirito reformador e autonomista é o que rege as cartas de foro e privilégio concedidos por D. Afonso Henriques e D. Dinis concederam à vila de Castro Daire.
Já 14 de Março de 1514 e o foral manuelino, agora celebrado, significam um outro espirito e outra reforma.
D. Manuel, na reforma dos forais, o que fez, foi estabelecer e fortalecer um sistema de recolha de impostos pela Coroa. Depois de Nobreza e Clero estarem submetidos à Coroa, o Rei viu, na reforma dos forais, a forma de controlar e submeter o Povo ao seu Poder e ao seu Governo. Mais que confirmar a autonomia municipal, o que D. Manuel fez foi estabelecer a uma rede eficaz e normalizada de recolha de impostos, para o Poder Central, reforçando-o.
A Historia tem a curiosidade de por vezes se repetir, ou pelo menos, repetir os efeitos dos factos que a constituem.
Em 1514, o Rei, sob a capa da confirmação das autonomias municipais, concede a Castro Daire um foral que consagra a submissão do Povo a um sistema centralizado de recolha de impostos, que aumentam, e um reforço do poder central da Coroa.
Em 2014 o Governo, sob a capa de uma racionalização da despesa pública, anuncia que irá privar os Castrenses de serviços públicos essenciais, como o Tribunal de Comarca, e que pretende extinguir outros, como os serviços de finanças locais.
Quinhentos anos de Historia, uma realidade semelhante – o reforço do Poder Central e um claro prejuízo para o Povo.
E que fazem os nossos vizinhos, que compõem o Concelho que nos rege?
Ao que parece, celebram, falam, proferem esperanças, mas não actuam na defesa de um Futuro melhor e dos interesses deste nosso Povo.
Dá que pensar…

Carlos Bianchi