sexta-feira, 18 de agosto de 2017

POPULISMOS (2)


No artigo anterior, desafiamos as caras leitores e caros leitores a perceber como os números desafiam e contrariam alguns dos, mais recentes exemplos de populismo.

Em primeiro lugar, referimos o caso do presidente de um município eleito contra o sistema de partidos. Pensávamos em Rui Moreira, presidente da Câmara do Porto, eleito em 2013, como independente. Se bem se recordam, a campanha para o Município do Porto, por este seu presidente, foi toda feita, em torno das ideias de independência dos partidos e do sistema partidário, aproveitando o sentimento das populações contra o actual sistema democrático. E assentava na ideia de que o líder do movimento tinha um carisma próprio, de quem, durante anos, teve a visibilidade de comentador desportivo. Estranhamente, ou talvez não, Rui Moreira teve sempre o apoio de um partido (que ainda mantem) e teve sempre a necessidade de ver as suas politicas apoiadas, em acordos com outras figuras ligadas a partidos – Manuel Pizarro, primeiro, e Ricardo Valente, presentemente. Mas continua a cavalgar a onda anti-partidos e o meu povo gosta. Lembram-se as minhas amigos e os meus amigos, de outros casos semelhantes? Assim, de repente, Fernando Nobre, candidato presidencial anti-partidos e, depois, eleito por um partido para a Assembleia da Republica, com a promessa de ser seu Presidente, sem qualquer passado parlamentar.

Em segundo lugar, referimos o caso do comentador globetrotter. Pensávamos em André Ventura. Ora, aquele comentador teve a brilhante ideia de, num artigo de opinião recente e a propósito de alguns atentados, de se referir à comunidade islâmica, como sendo algo a banir da Europa, e de propor a re-instauração da pena de morte, para esses casos. É uma opinião que vale o que vale. Mas pensemos nos casos em que a pena de morte existe, em democracia! Resolveu o problema com a criminalidade? Resolverá o problema fundacional do terrorismo? Quanto ao banimento de comunidades islâmicas da Europa, depois dela, banimos as comunidades brasileiras, ucranianas, homossexuais, ciganas? E quando restarem apenas mulheres brancas e homens brancos, heterossexuais, acabamos com o género em minoria? Depois, veio o comentador, agora candidato a uma Camara Municipal, arengar nos ciganos de Loures. Com razão, dizem alguns, porque falamos de uma comunidade dependente do RSI e atreita à prática de crimes. Mas será mesmo assim? Vejamos: a) Portugal – mais de 287.000 pessoas beneficiárias de RSI, dos quais cerca de 14.000 (5%) serão de etnia cigana; b) Loures – 4931 beneficiários de RSI, dos quais cerca de 500 (10%) serão ciganos. Loures tem quase 207 mil residentes, dos quais cerca de 1100 são ciganos (0,5%). Porquê esta comunidade a ser visada, pelo candidato. Será por serem poucos, por não terem participação politica, ou por apelo apenas ao nosso pré-conceito?

Carlos Bianchi

Advogado

Publicado in entre-o-montemuro-e-o-paiva.blogspot.pt

 (continua)

quinta-feira, 17 de agosto de 2017

POPULISMOS (1)

O Populismo é a doutrina ou prática política que procura ganhar vantagens com o apelo a reivindicações ou preconceitos, amplamente, disseminados entre a população, quase, sempre com um cariz paternalista e assente na ideia de que a liderança política deve ser exercida, em estreita ligação com o povo, sem a intermediação de partidos.

Quem não sabe apontar exemplos claros de populistas? Assim e de supetão, lembro-me, logo, de Donald Trump, Kim Jung-un e Nicolas Maduro. Parece seguro dizer-se que o populismo é perigoso e pode gerar uma interminável onda de conflitos, que nos levará sempre para o princípio do abismo. Restar-nos-á sempre a alternativa de morrer junto ao rebordo do mesmo ou saltar para dentro dele.

Mas todos os exemplos, são lá longe, não nos afectam, directamente, porquê pensar nisso, neste nosso país de brandos costumes? Simplesmente, caras e caros leitores, porque, por cá, vão surgindo sintomas de populismos que tem que nos dar como pensar.

Comecemos por um que nasceu há cerca de 4 anos, se fez contra os partidos, mas contou com o apoio de um, assentou na liderança de um homem só e que, recentemente, se deu ao luxo de dispensar o apoio de quem o auxiliou a governar uma Câmara.

Passemos agora a um comentador globetrotter, que escreve sobre a possibilidade de ser reintegrada a pena de morte, em casos de terrorismo, de ser proibida e banida, da Europa, a comunidade islâmica e arenga contra a comunidade cigana.

Demos uma volta por um governo que, depois de passar uns meses a assobiar para o lado e se mostrar muito emocionado, perante a tragédia, passa todo o tempo a deitar culpas, sobre a GNR, primeiro, sobre o SIRESP, depois, sobre os incendiários, agora. Tudo, menos, fazer o que se deve fazer – reformas da política agraria, sobre o modo de estruturar a protecção civil, da politica de financiamento da prevenção de fogos florestais.

Terminemos com os candidatos a uma camara municipal, eleitos com base em promessas que não cumpriram, com apelos ao ódio a determinadas personagens e promessas (não cumpridas) de os recolocar no seu devido lugar, que levaram os seus concelhos à subsidio-dependência. Candidatos que tem a lata de dizer que “agora é que é”, que “vão fazer mais e melhor”.

Tudo isto é, minhas caras e meus caros leitores, populismo. Porque apela aos nossos preconceitos, porque parece a alguns ser uma verdade absoluta e porque podem ser rebatidos com números, mas dá muito trabalho e nem todos o querem fazer.

Vamos a isso?

Carlos Bianchi

Advogado
 (continua)