No artigo anterior, desafiamos as caras leitores e caros leitores a
perceber como os números desafiam e contrariam alguns dos, mais recentes
exemplos de populismo.
Em primeiro lugar, referimos o caso do presidente de um município eleito
contra o sistema de partidos. Pensávamos em Rui Moreira, presidente da Câmara
do Porto, eleito em 2013, como independente. Se bem se recordam, a campanha
para o Município do Porto, por este seu presidente, foi toda feita, em torno
das ideias de independência dos partidos e do sistema partidário, aproveitando
o sentimento das populações contra o actual sistema democrático. E assentava na
ideia de que o líder do movimento tinha um carisma próprio, de quem, durante
anos, teve a visibilidade de comentador desportivo. Estranhamente, ou talvez
não, Rui Moreira teve sempre o apoio de um partido (que ainda mantem) e teve
sempre a necessidade de ver as suas politicas apoiadas, em acordos com outras
figuras ligadas a partidos – Manuel Pizarro, primeiro, e Ricardo Valente,
presentemente. Mas continua a cavalgar a onda anti-partidos e o meu povo gosta.
Lembram-se as minhas amigos e os meus amigos, de outros casos semelhantes? Assim,
de repente, Fernando Nobre, candidato presidencial anti-partidos e, depois,
eleito por um partido para a Assembleia da Republica, com a promessa de ser seu
Presidente, sem qualquer passado parlamentar.
Em segundo lugar, referimos o caso do comentador globetrotter. Pensávamos
em André Ventura. Ora, aquele comentador teve a brilhante ideia de, num artigo
de opinião recente e a propósito de alguns atentados, de se referir à
comunidade islâmica, como sendo algo a banir da Europa, e de propor a re-instauração
da pena de morte, para esses casos. É uma opinião que vale o que vale. Mas
pensemos nos casos em que a pena de morte existe, em democracia! Resolveu o
problema com a criminalidade? Resolverá o problema fundacional do terrorismo?
Quanto ao banimento de comunidades islâmicas da Europa, depois dela, banimos as
comunidades brasileiras, ucranianas, homossexuais, ciganas? E quando restarem
apenas mulheres brancas e homens brancos, heterossexuais, acabamos com o género
em minoria? Depois, veio o comentador, agora candidato a uma Camara Municipal,
arengar nos ciganos de Loures. Com razão, dizem alguns, porque falamos de uma
comunidade dependente do RSI e atreita à prática de crimes. Mas será mesmo
assim? Vejamos: a) Portugal – mais de 287.000 pessoas beneficiárias de RSI, dos
quais cerca de 14.000 (5%) serão de etnia cigana; b) Loures – 4931 beneficiários
de RSI, dos quais cerca de 500 (10%) serão ciganos. Loures tem quase 207 mil
residentes, dos quais cerca de 1100 são ciganos (0,5%). Porquê esta comunidade
a ser visada, pelo candidato. Será por serem poucos, por não terem participação
politica, ou por apelo apenas ao nosso pré-conceito?
Carlos Bianchi
Advogado
Publicado in entre-o-montemuro-e-o-paiva.blogspot.pt
(continua)