Para terminar a serie de artigos sobre o fenómeno do populismo, que
iniciamos antes das eleições autárquicas, pretendíamos ter feito um artigo a
publicar antes de 01 de Outubro de 2017. Não há como dizer de outra forma:
fomos ultrapassados pelos acontecimentos e pelas obrigações profissionais.
Mas seremos fieis à nossa palavra e abordaremos, agora, os populismos
que restam.
De um lado, para infelicidade de muitos, vejamos o exemplo do
(des)governo nacional. Cavalgando a onda de uma suposta vaga de “terrorismo
ambiental”, ignorando as próprias falhas e as lacunas que imprimiram no sistema
de protecção civil, com a dança dos boys do costume e acima de tudo,
demonstrando desprezo pelos cidadãos portugueses, os nossos governantes passam
pelo assunto dos incêndios florestais, como cães por vinha vindimada (perdoe-se
o recurso ao ditado popular). Ou então, como crentes de uma Santa Barbara a
quem rezam apenas quando troveja. Fazer uma profunda reforma na politica
agraria, implementando medidas de rejuvenescimento e fixação de população no
interior? Apostar em políticas de aumento de produtividade e apoio aos
agricultores? Repensar a estrutura da protecção civil, profissionaliza-la,
dar-lhe mais meios técnicos e humanos? Apostar mais na prevenção, do que no
combate? Implementar medidas de apoio à silvicultura preventiva? Repensar a
reflorestação do país? Diz o povo: “tá quieto que dá trabalho”. Resultado mais
de 100 mortos (isto só pensando em Pedrogão Grande e o ultimo fim-de-semana).
A nós, resta-nos a consolação de termos demasiados heróis anónimos, nos
nossos bombeiros, sapadores, militares da GNR, elementos de juntas de freguesia
ou simples populares. Bem-haja a todos pelo esforço e generosidade.
Terminamos com os muitos candidatos às
autarquias locais, deste nosso País. Alguns deles derrotados na noite eleitoral
de 1 de Outubro. De pouco lhes valeu a política da repressão, da asfixia
democrática, da intimidação, da falsa condição de plenipotenciários da
atribuição de pensões e outros subsídios. Mas outros houve que foram eleitos.
Mesmo depois de condenados por corrupção, de terem praticas muito pouco claras
e ainda menos éticas. Ou depois de fazer o que há muito se condena – prometer o
irrealizável. Que dizer? É próprio das democracias haver fenómenos assim.
Devemos preocuparmo-nos? Claro que sim. Embora os sinais que vão surgindo, nos
digam que cada vez menos, pois começamos a estar todos bem mais esclarecidos.
Carlos Bianchi
Advogado
Publicado in entre-o-montemuro-e-o-paiva.blogspot.pt