sábado, 22 de maio de 2021

Voltamos ao antigo normal ou precisamos de outro?

Depois de mais de um ano de dificuldades, criadas por uma crise pandémica, anseia-se pelo regresso ao normal. Mas nem todos as pessoas e sectores sentem esses anseios. Há mesmo quem já o tenha feito, com a mesma estreiteza de vistas de antigamente: voltou ao antigo normal, mas não aprendeu nada com o passado mais recente.

Em ano de eleições autárquicas era normal a realização de obras com urgência, porque não ter havido tempo de as fazer nos 3 anos anteriores. Era normal passar-se nas aldeias e vilas à cata de apoiantes a quem se prometia a segurança de uma emprego público, de um subsídio, de uma cunha, de uma benesse. Era normal um discurso (quando o há) cheio de lugares comuns, mas vazio de ideias e propostas concretas que respondam aos anseios das populações e, acima de tudo, olhem para os interesses do concelho – fixar pessoas e criar riqueza. Olhava-se apenas pela sobrevivência pessoal, ignorando-se os interesses colectivos. Parece que nada mudou!

Nada contra a ideia de que um concelho dotado de boas condições naturais e algumas potencialidades sub-exploradas queira colocar-se na rota do Turismo. Mesmo um concelho que tenha, por exemplo, uma estrada como a N225 no estado em que está ou uma ETAR concluída e que inexplicavelmente permanece sem funcionar. Mas a recente crise pandémica diz-nos que depender apenas deste sector é um erro – outra crise e tudo paralisa e definha. Mais quando é evidente que, como alguém mais sábio disse um dia: olhem para os destinos tradicionais por exemplo e vejam que os territórios que vivem quase exclusivamente do turismo nunca são ricos (a maioria em regra até vive miseravelmente).

Continua a faltar uma visão estratégica para o Concelho e um conjunto de políticas económicas integradas. E não, não basta dizer-se que vamos apostar na serra, no rio e nas Termas! É preciso muito mais. É preciso mesmo um novo «normal».

É preciso criar condições para o investimento. Porque não criar um conjunto de “polígonos de investimento” com pré-aprovação de licenciamentos para diminuir os custos com a burocracia?

É necessário olhar território de modo a diminuir as dificuldades resultantes das condicionantes como a REDE NATURA, por exemplo. Porque não motivar a implementação de uma actividade silvo-pastoril de transumância interna, permitindo a construção dos equipamentos de apoio onde há menos entraves e o pastoreio na serra do Montemuro?

É necessário perceber que a actividade económica mais relevante do concelho é mesmo o comércio e que cada vez se vêm mais estabelecimentos a encerrar ou em piores condições. Porque não criar programas de apoio à recuperação dos estabelecimentos comerciais e incentivos regulares à compra no comercio local?

Ficam as dicas para uma futura reflexão. Fica também a certeza de que voltar ao antigo normal não é boa opção para um Concelho como Castro Daire. Parece antes ser apenas uma questão de sobrevivência pessoal de alguns à custa de todos.

Carlos Bianchi

Nota: No texto tinha identificado, como via que atravessa o concelho, a N226. Na verdade, queria identificar a tão ignorada e prometida EN 225. As minhas desculpas pelo erro e bem-haja a quem deu conta do erro.

terça-feira, 2 de março de 2021

A quem interesse ou das razões pelas quais renunciei ao mandato na AM e na CP do CDS-PP

No dia de ontem, 01 de Março de 2021, renunciei ao cargo de Vice-presidente da Comissão Política do CDS-PP de Castro Daire e ao mandato de Deputado Municipal. Não tenho qualquer intenção de gastar muito mais minutos no assunto que me leva a escrever, hoje. Mas os eleitores de Castro Daire e, em particular, do CDS local merecem uma explicação.

Em outras condições, a renúncia ao cargo partidário não implicaria, necessariamente, a demissão do cargo autárquico. Porém, ambas estão intrinsecamente ligadas ao mesmo fundamento: aparentemente, o exercício livre e critico dos poderes e deveres de deputado são incómodos para os objectivos da Comissão Política do CDS-PP.

Em causa estão um conjunto de pedidos de documentos e informações feitas pelo deputado do CDS (e nessa condição) à Câmara Municipal. Umas em 04/02/2020 que até hoje não tiveram resposta. Outras, mais recentes, a propósitos dos processos de regularização de dividas do mandato de 2013/2017, nos quais o Município foi condenado a pagar mais de 450 mil euros.

Num primeiro momento havia interesse do CDS-PP local nas informações e documentos solicitados e actuação do deputado era conhecida e concertada com o partido. Agora e sem que nada, de essencial, tenha mudado, foi-me  comunicado pelo Presidente da Comissão Política que o partido já não quer essas informações e documentos e que o fez saber a quem tinha o dever de os apresentar.

Num mesmo acto, pedem-me que sacrifique a minha liberdade, a minha consciência critica e a minha visão sobre os interesses do concelho e retiram-me a legitimidade política de fiscalizar quem o deve ser.

Na política, como na vida só sei ser de um modo: estarei sempre onde considerem que acrescento e que sou útil, não estarei onde me vêm como um obstáculo. Na política, não ascendi, nem quero ascender ao pináculo do racionalismo: não mudo de posição, facilmente e à luz de interesses particulares ou meramente partidários, sacrificando princípios, valores e o interesse público.

Parafraseando muito livremente Ary dos Santos: Serei tudo o que disserem por temor ou negação. Político castrado? Não!

Siga-se agora o correr normal destes dias anormais. Ignore quem acha que esta comunicação é irrelevante e desconhecida. Apreciem favorável e silenciosamente os que melhor me conhecem e sabem efectivamente quem sou. Respirem de alívio os que, visivelmente e ocultamente, se incomodam com quem não tem preço. E venham os indigentes mentais comentar a atitude, como se ao espelho se olhassem

Uma última palavra para todos os Castrenses e para todos os militantes do CDS-PP que agraciaram com a vossa confiança, nos últimos anos. Bem haja! Saio hoje de cabeça erguida, por ter exercido os cargos que me confiaram, com erros certamente, mas dando sempre o meu melhor.

Carlos Bianchi