A eleição de Donald Trump deixa-nos várias perplexidades que
merecem reflexão.
A primeira é de que há sistemas democráticos em que a vitória
não é de quem tem mais votos populares. Aconteceu nos Estados Unidos em 1824,
1876, 1888, 2000 e com Donald Trump agora. Surpreendentemente, há, por aqui,
quem critique este sistema. E digo, surpreendentemente, porque são os mesmos
que, muito recentemente, abriram o precedente, de tornar primeiro-ministro a
mesma pessoa a quem o voto popular relegou para segundo lugar, nas eleições.
Estranho, não é?
A segunda é de que se institucionalizou a geração BIG
BROTHER. Dessa embrutecida, demagógica, populista e anti-sistema geração são
muitos os exemplos, mundo fora. Ficamo-nos pelos políticos, como Marine le Pen,
Boris Johnson, Sílvio Berlusconi, Pablo Iglésias, Aléxis Tsipras, etc. O que
lhes faltava era mesmo uma eleição significativa. E de repente surge Donald
Trump! Que bom para eles! E para nós, como será?
A terceira e última perplexidade é que nesta, nova,
realidade politica e social, há algo que nunca mudará: a facilidade com que o
voto secreto desmascara um discurso, politicamente, correcto. Seja qual for a
realidade politica em vigor (o caciquismo vigente em Portugal ou a política
reality show americana), a verdade é que quem vota, fá-lo contra o discurso dominante.
Quem não se lembra das críticas feitas a quem pretendia ser reeleito em 2009,
para alguns municípios? Quem não se lembra que se disse de Trump? Resultado:
foram eleitos, por voto secreto, os criticados. Em alguns casos até com
votações superiores às que haviam sido expressas em eleições anteriores e/ou contra
as sondagens publicadas. Expressão máxima da liberdade de voto ou, pura e
simplesmente, cinismo?
Ficam, por agora, as questões. Tememos apenas que as
respostas sejam dadas, com o atraso dos concelhos e do país. Ou então com a
utilização do botão vermelho! Veremos (esperamos nós)!
Carlos Bianchi
Advogado
Castro Daire