Mal comparando, a relação entre a sociedade civil e os partidos políticos assemelha-se a um casamento que, ao fim de muitos anos e por causa da rotina instalada, se encontra em dificuldades e a ponto de um anunciado divórcio. Como na vida, não há uma culpa singular para esta anunciada ruptura, mas podemos atribuir a divisão aos comportamentos de ambos lados da relação.
Comece-se pelos comportamentos dos partidos políticos.
Acreditam os partidos políticos, ainda, que lhes basta apresentarem-se a votos, perante uma sociedade civil que existe só para os servir.
Os partidos políticos habituaram os portugueses a, mal tenham acesso ao poder executivo e/ou legislativo, distribuir os lugares de direcção politica e administrativa, pelos seus.
Quase sem excepção, os partidos políticos habituaram a sociedade civil à ausência de palavra, prometendo tudo e mais alguma coisa, para depois, chegados ao poder, fazer o contrário do que prometeram.
Os partidos políticos, abandonando o princípio ideal da acção politica, com base na diferença ideológica, passaram a recrutar aqueles que melhor ganham eleições, independentemente das suas convicções pessoais, fazendo uma política caciquista e de apego ao poder.
Ou seja, os partidos políticos são, hoje aquele, marido da caricatura que, durante os períodos de lazer, passa a vida no sofá, a beber a sua cerveja, a ver o seu jogo de futebol e a pedir à mulher que lhe traga os seus chinelos e tremoços.
Mas a sociedade civil não escapa à crítica.
Tradicionalmente submissa, a sociedade civil não exige aos partidos políticos o esclarecimento dos seus programas eleitorais, votando genericamente e por hábito.
A sociedade civil, habituada desde sempre, ao corrupio à distribuição de lugares por aqueles que melhor mostram os seus cartões de militante, até já não acha errado que, alguns, favoreçam a família, antes de mais, e considerem mesmo justificar a sua atitude, com desculpas que se limitam a tapar o sol com a peneira.
Por outro lado, a sociedade civil permitiu que o mecanismo das candidaturas independentes fosse canibalizado pelos dissidentes partidários, mais preocupados em chegar ao poder do que em apresentar propostas alternativas de governo.
A sociedade civil, em cada legislatura, em cada eleição, em cada ciclo politico, considera que o seu papel se esgota no voto, podendo, depois disso, dedicar-se ao deporto nacional da critica pela critica, do mal-dizer e do bota-abaixismo.
Acima de tudo, a sociedade civil revela, quase sempre, uma memória curta e uma propensão para aceitar, como bom, que o politico, seja ele quem for, coloque os interesses pessoais e/ou partidários acima dos interesses públicos, ainda que depois venha criticar tal actuação.
Concluindo, a sociedade civil parece-se muito aquela mulher, aparentemente submissa que tudo faz ao seu marido, nada discutindo, mas que depois e com as amigas e familiares mostra o seu ressentimento, para com aquele.
Dir-se-á que o retrato é exagerado e que há, cada vez mais, exemplos de mudança. É verdade. Por exemplo, nas Eleições Autárquicas de 2013, uma candidatura verdadeiramente independente e com uma proposta alternativa de governo local, ganhou a Camara Municipal do Porto.
Mas este é o problema da generalização. Pintando-se o retrato genérico, é difícil evidenciar os pormenores que, no entanto, existem.Afinal, os exemplos do retrato genérico abundam. Assim e de repente:
1) Em 2013, Paulo Portas apresenta uma demissão que diz ser irrevogável, reconsidera a sua posição, acaba por ser nomeado vice primeiro-ministro e consegue que a orgânica de governo reflectisse a preocupação, com a economia a par com o controlo orçamental.
Apesar de saber que Portugal se encontra num programa de assistência externa, que a crise politica nos poderia atirar para uma situação idêntica à da Grécia e que, no horizonte politico, não existia uma verdadeira alternativa que permitisse que Portugal pudesse honrar os compromissos, a sociedade civil optou por criticar Paulo Portas e o CDS-PP por causa da questão do “irrevogável”.
A demissão de Paulo Portas e a queda do Governo seria melhor para o CDS-PP? Provavelmente, sim. Mas seria melhor para Portugal? Decididamente, não. Deveria o CDS-PP fazer o que era melhor para si, mas pior para Portugal? Aparentemente, pelo que diz a sociedade civil, sim.
2) Nas eleições autárquicas de 2013, em Castro Daire, PS e PSD surgem com candidaturas muito próximas desta generalização.
Por um lado, o PS que, no mandato anterior não cumpriu mais de um 1/3 das promessas anteriores, voltou a apostar nas promessas anteriores, na ausência de programa eleitoral, na ausência de politicas de crescimento económico e social do concelho e, ainda assim, ganha as eleições, para, depois, favorecer apenas alguns, desculpando-se como pode e com a compreensão e concordância dos eleitores que, antes das eleições, não se coibiam de criticar quem estava à frente do Concelho.
Por outro lado, o PSD, que se apresenta a eleições, sem alternativas de governação, considerando que deveriam os Castrenses dar-lhe a governação municipal porque sim, acaba por perder as eleições, ainda que elegendo 3 vereadores, mas, em lugar de criticar as opções politicas da Camara Municipal, apresentando uma solução alternativa, persiste numa politica de híper-vigilancia, da politica da fotografia, de critica do que acha errado, mesmo que com isso crie clivagem entre populações do mesmo concelho. E alguns aplaudem.
3) Nas ultimas eleições europeias, PS e Aliança Portugal, discutem tudo, menos a Europa e a construção europeia, onde aliás não tem qualquer diferença de pensamento, a sociedade civil opta pela abstenção, votando apenas 1 em cada 3 eleitores, aparecem candidaturas “independentes” mas com a mascara de partidos, surgem candidaturas contra um Parlamento Europeu, para o qual se candidatam, e o resultado é um quase empate técnico entre as forças politicas que ficam em 1º e 2º lugar.
Por conta do resultado dessas eleições,
a) O PS mergulha numa crise de liderança, apesar de vencer as eleições,
b) A CDU apresenta uma moção de censura, onde se declara apoiante da saída de Portugal do Euro, com a consequência que isso trás para integração na União Europeia e sem considerar a incoerência, de que tal posição resulta da sua vitoria em eleições para o Parlamento Europeu, de onde, pelos vistos, querem sair e já,
c) PSD e CDS-PP, assumem a sua derrota eleitoral, mas não dão quaisquer sinais de quererem mudar parte da sua opção politica, para melhorarem as condições de vida dos Portugueses, agarrados á infeliz expressão «Portugal está melhor, ainda que os Portugueses estejam pior».
Winston Churchill afirmou que “a democracia é a pior forma de governo, tirando todas as outras” e a verdade é que a democracia não se constrói sem a existência de partidos políticos e sem a sociedade civil. Cabe aos partidos políticos perceber que, sem dialogo com a sociedade civil, o País e o sistema democrático não evolui. Cabe à sociedade civil obrigar os partidos políticos a mudar, dialogando com eles, apresentando as suas propostas alternativas e, acima de tudo, usar todos os mecanismos possíveis de mostram como querem que Portugal seja governado.
Comece-se pelos comportamentos dos partidos políticos.
Acreditam os partidos políticos, ainda, que lhes basta apresentarem-se a votos, perante uma sociedade civil que existe só para os servir.
Os partidos políticos habituaram os portugueses a, mal tenham acesso ao poder executivo e/ou legislativo, distribuir os lugares de direcção politica e administrativa, pelos seus.
Quase sem excepção, os partidos políticos habituaram a sociedade civil à ausência de palavra, prometendo tudo e mais alguma coisa, para depois, chegados ao poder, fazer o contrário do que prometeram.
Os partidos políticos, abandonando o princípio ideal da acção politica, com base na diferença ideológica, passaram a recrutar aqueles que melhor ganham eleições, independentemente das suas convicções pessoais, fazendo uma política caciquista e de apego ao poder.
Ou seja, os partidos políticos são, hoje aquele, marido da caricatura que, durante os períodos de lazer, passa a vida no sofá, a beber a sua cerveja, a ver o seu jogo de futebol e a pedir à mulher que lhe traga os seus chinelos e tremoços.
Mas a sociedade civil não escapa à crítica.
Tradicionalmente submissa, a sociedade civil não exige aos partidos políticos o esclarecimento dos seus programas eleitorais, votando genericamente e por hábito.
A sociedade civil, habituada desde sempre, ao corrupio à distribuição de lugares por aqueles que melhor mostram os seus cartões de militante, até já não acha errado que, alguns, favoreçam a família, antes de mais, e considerem mesmo justificar a sua atitude, com desculpas que se limitam a tapar o sol com a peneira.
Por outro lado, a sociedade civil permitiu que o mecanismo das candidaturas independentes fosse canibalizado pelos dissidentes partidários, mais preocupados em chegar ao poder do que em apresentar propostas alternativas de governo.
A sociedade civil, em cada legislatura, em cada eleição, em cada ciclo politico, considera que o seu papel se esgota no voto, podendo, depois disso, dedicar-se ao deporto nacional da critica pela critica, do mal-dizer e do bota-abaixismo.
Acima de tudo, a sociedade civil revela, quase sempre, uma memória curta e uma propensão para aceitar, como bom, que o politico, seja ele quem for, coloque os interesses pessoais e/ou partidários acima dos interesses públicos, ainda que depois venha criticar tal actuação.
Concluindo, a sociedade civil parece-se muito aquela mulher, aparentemente submissa que tudo faz ao seu marido, nada discutindo, mas que depois e com as amigas e familiares mostra o seu ressentimento, para com aquele.
Dir-se-á que o retrato é exagerado e que há, cada vez mais, exemplos de mudança. É verdade. Por exemplo, nas Eleições Autárquicas de 2013, uma candidatura verdadeiramente independente e com uma proposta alternativa de governo local, ganhou a Camara Municipal do Porto.
Mas este é o problema da generalização. Pintando-se o retrato genérico, é difícil evidenciar os pormenores que, no entanto, existem.Afinal, os exemplos do retrato genérico abundam. Assim e de repente:
1) Em 2013, Paulo Portas apresenta uma demissão que diz ser irrevogável, reconsidera a sua posição, acaba por ser nomeado vice primeiro-ministro e consegue que a orgânica de governo reflectisse a preocupação, com a economia a par com o controlo orçamental.
Apesar de saber que Portugal se encontra num programa de assistência externa, que a crise politica nos poderia atirar para uma situação idêntica à da Grécia e que, no horizonte politico, não existia uma verdadeira alternativa que permitisse que Portugal pudesse honrar os compromissos, a sociedade civil optou por criticar Paulo Portas e o CDS-PP por causa da questão do “irrevogável”.
A demissão de Paulo Portas e a queda do Governo seria melhor para o CDS-PP? Provavelmente, sim. Mas seria melhor para Portugal? Decididamente, não. Deveria o CDS-PP fazer o que era melhor para si, mas pior para Portugal? Aparentemente, pelo que diz a sociedade civil, sim.
2) Nas eleições autárquicas de 2013, em Castro Daire, PS e PSD surgem com candidaturas muito próximas desta generalização.
Por um lado, o PS que, no mandato anterior não cumpriu mais de um 1/3 das promessas anteriores, voltou a apostar nas promessas anteriores, na ausência de programa eleitoral, na ausência de politicas de crescimento económico e social do concelho e, ainda assim, ganha as eleições, para, depois, favorecer apenas alguns, desculpando-se como pode e com a compreensão e concordância dos eleitores que, antes das eleições, não se coibiam de criticar quem estava à frente do Concelho.
Por outro lado, o PSD, que se apresenta a eleições, sem alternativas de governação, considerando que deveriam os Castrenses dar-lhe a governação municipal porque sim, acaba por perder as eleições, ainda que elegendo 3 vereadores, mas, em lugar de criticar as opções politicas da Camara Municipal, apresentando uma solução alternativa, persiste numa politica de híper-vigilancia, da politica da fotografia, de critica do que acha errado, mesmo que com isso crie clivagem entre populações do mesmo concelho. E alguns aplaudem.
3) Nas ultimas eleições europeias, PS e Aliança Portugal, discutem tudo, menos a Europa e a construção europeia, onde aliás não tem qualquer diferença de pensamento, a sociedade civil opta pela abstenção, votando apenas 1 em cada 3 eleitores, aparecem candidaturas “independentes” mas com a mascara de partidos, surgem candidaturas contra um Parlamento Europeu, para o qual se candidatam, e o resultado é um quase empate técnico entre as forças politicas que ficam em 1º e 2º lugar.
Por conta do resultado dessas eleições,
a) O PS mergulha numa crise de liderança, apesar de vencer as eleições,
b) A CDU apresenta uma moção de censura, onde se declara apoiante da saída de Portugal do Euro, com a consequência que isso trás para integração na União Europeia e sem considerar a incoerência, de que tal posição resulta da sua vitoria em eleições para o Parlamento Europeu, de onde, pelos vistos, querem sair e já,
c) PSD e CDS-PP, assumem a sua derrota eleitoral, mas não dão quaisquer sinais de quererem mudar parte da sua opção politica, para melhorarem as condições de vida dos Portugueses, agarrados á infeliz expressão «Portugal está melhor, ainda que os Portugueses estejam pior».
Winston Churchill afirmou que “a democracia é a pior forma de governo, tirando todas as outras” e a verdade é que a democracia não se constrói sem a existência de partidos políticos e sem a sociedade civil. Cabe aos partidos políticos perceber que, sem dialogo com a sociedade civil, o País e o sistema democrático não evolui. Cabe à sociedade civil obrigar os partidos políticos a mudar, dialogando com eles, apresentando as suas propostas alternativas e, acima de tudo, usar todos os mecanismos possíveis de mostram como querem que Portugal seja governado.
Vale a pena pensar nisto.
Carlos Bianchi