segunda-feira, 5 de outubro de 2015

5 De Outubro de 2015


A data que constitui o título deste nosso texto, amigos leitores, constitui um marco na existência de Portugal e merece uma reflexão profunda, mais profunda do que aquela que um pequeno artigo pode fazer. Apontemos apenas caminhos.

Há 872 anos, numa pequena cidade (Zamora), muito disputada entre cristãos e árabes, que, à data, pertencia ao Reino de Leão, um tratado foi assinado, entre dois primos, Afonso Henriques e Afonso VII. Desse tratado resultou o reconhecimento da independência do reino de Afonso Henriques e o início do mais antigo Estado-Nação da Europa: Portugal. Apesar da importância do tratado, a verdade é que são poucos os que vêm, na data 5 de Outubro, a oportunidade de galvanizar a nossa importância histórica, enquanto país. Infelizmente, tendemos a dar mais importância ao 10 de Junho, data com origem nos finais do seculo XIX, mas mais instrumentalizada pela ditadura do Estado Novo e que, em bom rigor, nasce mais como exaltação a um génio da pátria – Luís de Camões – e pouco tem que ver com a própria Nação.

Há 105 anos, em Lisboa, no culminar do golpe de estado iniciado dois dias antes, pelas 9 horas da Manhã, José Maria Mascarenhas Relvas de Campos, membro do Directório do Partido Republicano Português, proclama a Implantação da República Portuguesa. De repente, deixamos de ter na chefia do Estado, um rei, uma personagem que recebia o seu poder fruto, apenas, da sua relação familiar e passamos a escolher um representante, de entre nós, a quem conferimos um mandato, limitado no tempo, e cuja obrigação é zelar pelo cumprimento da vontade do soberano Povo Português. Com os seus defeitos e virtudes é o sistema politico que mantemos, em Portugal. É por isso que não consigo perceber por que motivo o Sr. Presidente da República optou por não estar, hoje, presente para homenagear um sistema político, que o elegeu e o tem como representante máximo. Tal atitude revela uma total falta de respeito para quem o elegeu e grave incoerência, mais própria de quem não é capaz de perceber qual o seu papel, para com a história e o Povo que representa.

Ontem, em Portugal disputaram-se eleições legislativas e fomos chamados a escolher quem queremos que nos represente, no Parlamento da República. Exerceu-se uma das virtudes daquele sistema político, que Winston Churchill apelidou de “a pior forma de governo, salvo todas as demais formas que têm sido experimentadas de tempos em tempos" – a Democracia. Em liberdade e em consciência, acredito, os portugueses decidiram conferir mandatos a 99 candidatos da coligação CDS-PSD, a 85 candidatos do PS, a 19 candidatos do Bloco de Esquerda, 17 candidatos da coligação PCP/PEV, a 3 candidatos do PSD Madeira, a 2 candidatos do PSD Açores e a 1 candidatos do PAN[i]. Ora, daqui resulta que o Parlamento se dividira em duas grandes áreas: A direita disporá de, pelo menos, 104 deputados e a esquerda de, pelo menos, 121 deputados. Isto significa que a direita vence as eleições, mas a esquerda tem uma maioria parlamentar. Sem qualquer medo das palavras, Portugal tem à espreita uma crise politica que, se vier a materializar-se, põe em causa todos os sacrifícios que estamos a fazer, desde Março de 2010 (data de apresentação do PEC 1, pelo XVIII Governo constitucional, liderado por José Sócrates). Por um lado, o Presidente da República irá cumprir a tradição democrática de convidar a coligação CDS/PSD para formar um governo, que a esquerda promete reprovar. Por outro lado, o chumbo do programa de governo ou a aprovação das moções de censura prometidas à esquerda, pode levar ao absurdo de serem convidado partido que perdeu as eleições (PS) a formar governo, em coligação, com os elementos mais radicais da política nacional. Por ultimo, tudo isto se arrastará até, pelo menos 6 de Março de 2016, altura em que se poderá dissolver a AR e marcar novas eleições, levando a eventuais perdas para Portugal e os Portugueses.

Concluindo, o 5 de Outubro de 2015, é, para um português orgulhoso e para um republicano convicto, um marco histórico importante. Mas, para um cidadão que acredita nas virtudes do sistema democrático, constitui um derradeiro teste às suas convicções. Por um lado, não quero crer que os partidos políticos do arco da governação (CDS, PSD e PS), não conseguirão gerar os consensos necessários à estabilidade governativa. Por outro lado, não creio que seja possível que, forças politicas com ideias de futuro para o pais tão diferentes, como PS, BE e CDU, possam, em primeiro, aceitar governar um pais depois de perderem eleições e, em segundo, conseguir conciliar politicas pró e contra União Europeia, pró e contra integração no Euro e na NATO, pró e contra o respeito integral dos compromissos com os nosso credores, para poder governar. Finalmente, acho que, porventura, esta é a altura ideal para, em Portugal, se implementar a experiencia de países, como a Holanda, onde a cultura dos governos de coligação, pós-eleitoral e no interesse nacional é tónica do sistema político.



Carlos Bianchi

Advogado

Castro Daire.



[i] À hora que escrevo ainda não foram divulgados os resultados relativos aos 4 mandatos correspondentes aos círculos eleitorais relativos aos emigrantes portugueses.