quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

Contra o REVISIONISMO


Existem duas citações que devemos sempre recordar. De George Orwell: «A História é escrita pelos vencedores». E de Edmund Burke: «Um povo que não conhece a sua própria História está condenado a repeti-la».

Estas duas frases vêm a propósito da reflexão que devemos ter sobre o Holocausto Nazi resultado de uma ideia imoral de eugenia. Muito do que sabemos chega-nos das mãos dos vencedores da Guerra, também eles, não isentos de crimes contra a Humanidade. Mas o que sabemos dessa época, deve sempre recordar-nos como é mau ignorar a ética e moralidade no estabelecimento das políticas que nos regem.

Chegamos a um estádio de civilização que nos tem de preocupar, tanta é a tentação do revisionismo. E este surge-nos, nos factos mais comezinhos do nosso dia-a-dia.

Pense-se no encerramento de tribunais há alguns anos. Um presidente de Câmara encerrado no seu gabinete sem mexer uma palha. Uma sociedade civil liderada pelos Advogados a lutar contra o encerramento. Um conjunto de reuniões para evitar o encerramento de serviços onde o contributo do presidente de Câmara (que participa a custo) é tudo, menos útil. Resultado: o Concelho vê manter-se uma espécie de sucedâneo inútil de Tribunal e o Presidente de Câmara clama por vitória – puro revisionismo.

Pense-se numa estrada encerrada, cuja única alternativa é uma via onde se paga portagem. Um Município que nada faz para assegurar a isenção de portagem, durante 30 dias. Um partido político que, passado esse tempo, decide exigir do Município uma actuação para que o Governo estabeleça essa isenção, até por uma questão de igualdade – afinal essa isenção foi dada em 24 horas noutro Município em situação similar. Resultado: O Município diz que há muito está a pedir reuniões para obter essa isenção e até ao momento em que se escreve nada. Quando e se tal isenção for concedida vale uma aposta em como será uma enorme vitoria de quem estava quetinho no seu gabinete?

Pense-se agora numa pessoa que se afasta de uma instituição, por sua vontade expressa. Que deixa, no seu lugar, um substituto a pensar em regressar a qualquer momento. Que se vê ultrapassado por outras pessoas, mas sempre a pensar que é um ser providencial. Que recusa apoiar a instituição quando ela necessita e até demonstra não estar com quem o substituiu. Que retorna ou finge retornar noutro momento. Que integra a nova direcção dessa instituição, saindo por que não lhe é dado o papel central que julga dever ter. Que passados anos neste «agarra-me ou vou-me embora» torna definitivo o seu adeus à instituição, dizendo que foi ela que o afastou. Não é isto revisionismo?

Talvez seja hora de pensarmos bem que tipo de sociedade pretendemos ter. Uma, condenada a repetir o mesmo de sempre. Ou outra, que aposta naqueles que sempre se mantiveram os princípios de serviço público que nos devem nortear e apostam, primeiro nos interesses dos seus concidadãos e, depois, nos seus próprios.

Carlos Bianchi