Há fenómenos difíceis de entender
e de explicar, até por que, normalmente, tem plúrimas causas e podem ser
evidencias de diferentes realidades.
Um desses fenómenos é a falta de
memória, na sua vertente de memória selectiva.
Um exemplo:
Imagine-se que um cidadão,
presidente da direcção de uma associação, em período de eleições autárquicas, decide
fazer parte de uma lista partidária, a uma junta de freguesia. O mesmo cidadão decide,
ainda, manter-se nas suas funções institucionais, durante a campanha eleitoral.
E, felizmente, para o concelho, o partido politico, pelo qual aquele cidadão se
candidatou tem o pior resultado de sempre, perdendo as eleições para o Município
e para a Freguesia.
Vida difícil para aquele cidadão e
aquela associação, perante os vencedores!
Volvidos quatro anos, o mesmo cidadão,
ainda presidente da direcção da mesma associação, decide não integrar qualquer
lista partidária, nem fazer campanha ou apoiar, explicitamente, qualquer força
politica. Mas, em plena campanha eleitoral, promove, em conjunto com a direcção
a que preside, um evento, com interesse para a associação, para o qual convida
o Presidente de Câmara, ele sim candidato de novo. Nesse evento, bem ou mal, o
Presidente de Câmara, decide ser a figura central do evento e o seu discurso é
uma apologia ao voto, nele próprio e no seu partido. Azar dos Távoras, finda a
noite eleitoral, o partido, pelo qual o cidadão se candidatou, quatro anos
antes, vence as eleições. E o Presidente recandidato é derrotado.
Resultado: Os vencedores, escolhem
esquecer-se que, no passado, aquele cidadão, deu o corpo às balas, pelo seu
partido e optam por o criticar, por ter permitido ao adversário decidir fazer
politica, num evento para o qual foi convidado por ser Presidente de Câmara.
De novo, vida difícil para o cidadão
e para a associação!
O exemplo é, naturalmente, uma ficção,
cuja semelhança com a realidade é produto de uma coincidência. Mas permite-nos
verificar que a memória selectiva de alguns, aliada a um real azar, na escolha
dos nossos comportamentos, leva dificuldades que podiam e deviam ser evitados.
Mas espelha também uma realidade
muito própria do ser humano: a escolha de sentimentos que fazemos no nosso
percurso quotidiano.
Os vencedores podiam conduzir-se
por sentimentos de magnanimidade, de respeito pela opinião diversa e pela gratidão,
para com quem, no passado, esteve com eles em tempos muito difíceis.
Mas não!
Escolhem a mesquinhez, a tacanhez,
a ingratidão, a soberba. E, acima de tudo, escolhem confundir a nuvem com Juno,
prejudicando o todo, pela conduta de uma sua parte.
Como diria o Secretário Geral das
Nações Unidas, é a vida.
Carlos Bianchi