Quem não teve ainda a oportunidade de ler o documento “Visão Estratégica para o Plano de Recuperação Económica de Portugal 2020/2030”, faria bem perder algum tempo como mesmo. Isto dito, não significa que se concorde com o mesmo, na íntegra ou sequer em parte. Significa, tão-só, que se pode, no documento encontrar um trabalho de planeamento que pode e deve ser repetido à escala da região ou, no caso de Castro Daire, do concelho. Sim, do concelho! Sim, deve ser repetido! Melhor dizendo deve ser feito!
Castro Daire definha há décadas, sem vislumbrar nas políticas
municipais uma qualquer visão estratégica, um qualquer simulacro de aposta de
desenvolvimento integrado do concelho. Tudo parece resumir-se ao assegurar do
alimentar das máquinas e estruturas partidárias, promovendo-se o emprego e
algum investimento públicos, de modo desgarrado e não concertado. Mesmo as mais
recentes apostas na área do Turismo (pré-Covid 19) surgem de modo aleatório,
sem aparente planeamento e orientação. Dir-se-ia que se segue a máxima latina “alea
jacta est” (os dados estão lançados), esquecendo que a mesma é atribuída a
um general que dependida da sorte, mas muito mais da estratégia (Júlio César).
O concelho perde população há mais de 20 anos. O sector primário
sofre da desertificação crescente do Interior nacional e da inexistência de rede
de apoio técnico-científico e comercial. O sector secundário está reduzido a quase
nada, pela falta de plataformas logísticas dignas e modernas. O sector terciário
degrada-se diariamente por não conseguir captar novos clientes e por
diariamente assistir à sangria do território. Nem todo o concelho está ainda
suficientemente dotado de infraestruturas essenciais à vida quotidiana, como fornecimento
de água ou saneamento básico. Com cada vez menos gente e menos empresas é inevitável
a perda de receita para o Município o que levará à diminuição de capacidade de
mudar o estado a que chegamos. Sem qualquer pessimismo, mas cientes dos dados disponíveis,
pode dizer-se que ainda vamos a tempo? A janela disponível é curta, mas ainda
existe.
Dir-se-á que os recursos são escassos e limitados e os
problemas exigem largos investimentos. Nada mais errado! Envolverá assim tantos
custos estabelecer protocolos com as academias de modo a estudar, planificar e
apoiar os investimentos, mais adequados e lucrativos, na agricultura e na
exploração silvo-pastoril castrenses? Será assim tanto oneroso estabelecer uma
rede de apoios aos custos de contextos das actividades dos sectores primário e
secundário? Será assim tão difícil apoiar a captação de emprego, suportando,
por exemplo, as necessidades de transporte de quem vive fora do concelho? Será impossível
aproveitar alguns gabinetes municipais para captar, apoiar e promover novos
investimentos económicos? Será assim tão oneroso aproveitar as condições técnicas
de um concelho quase 100% fibra para instalar, por cá, algumas dos projectos de
inovação tecnológica? O que se passou recentemente, quando do confinamento de
março, não permitiu verificar que, com pouco investimento, é possível ver-se novas
formas de comércio, novos modos de publicitação dos produtos e do concelho?
O que agora se questiona não é novo, nem é de agora! E tempos
houve que se soube diagnosticar os problemas do Concelho, de delinear respostas
para esses problemas e de as publicitar. Pena que se tenham perdido anos com a
incapacidade de implementar as respostas e se tenham alienado oportunidades de colocar
Castro Daire no curso do desenvolvimento económico e social que permita que
todos tenham, por cá, as oportunidades que procuram.
Carlos Bianchi