quarta-feira, 11 de novembro de 2015

A QUEDA DE UM MITO


Os Portugueses, depois de várias décadas a comprar a ideia de que elegiam o 1º Ministro, foram confrontados com uma realidade com 39 anos: em eleições legislativas escolhem, só, os deputados que compõem a AR.

É, por isso, que não se compreende alguns lamentos que se vão lendo por aí.

É que o respeito pela Democracia constitucional, também se faz conhecendo as regras instituídas.

 

Mas também se não compreendem alguns dos argumentos que tentam justificar o que ocorreu.

Dizem uns: a coligação PSD-CDS não teve a maioria absoluta! Mas quem diz isso, há não muito tempo dizia que esse era um caminho errado para o País. Quererá, de futuro, que haja sempre maiorias absolutas? Quer PSD e PSD permanentemente, no Governo, sozinhos?

Dizem alguns: tinham que se respeitar o, quase, milhão de votos que BE e CDU receberam! Verdade. Mas e onde cabe o respeito mais de 2 milhões de votos que CDS e PSD representam, onde fica?

Dizem outros: Existe uma maioria de esquerda, que pode dar estabilidade a um Governo desse bloco! Onde está a estabilidade, quando se atira o PS para o governo e se lhe exige uma negociação à vista e em cada ano?

Dizem também outros: a coligação entre CDS e PSD, há 4 anos, fez-se após eleições! É verdade. Mas há 4 anos PSD havia ganho eleições. Há 4 anos, no PS estava quem nos levou à situação de ter de aceitar a intervenção externa. Hoje, a aliança á esquerda, assenta apenas num ódio á direita e na vontade de salvar a face, apenas.

Dizem finalmente: com a nova “aliança à esquerda” condições de mudar de política. O SYRIZA dizia o mesmo. Mas o choque com a “real politic” deu-se e, de repente, passou-se da esquerda à conformação.

Caiu um Governo, levante-se outro

Mas a consequência de tudo isto, irá ser, certamente, o aumentar do número de divorciados da Politica - hoje, mais de 4,5 milhões de concidadãos. Dá que pensar, não dá?

E certo, certo, é que pagará sempre o mesmo, no final.

 

Carlos Bianchi

Castro Daire.

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

5 De Outubro de 2015


A data que constitui o título deste nosso texto, amigos leitores, constitui um marco na existência de Portugal e merece uma reflexão profunda, mais profunda do que aquela que um pequeno artigo pode fazer. Apontemos apenas caminhos.

Há 872 anos, numa pequena cidade (Zamora), muito disputada entre cristãos e árabes, que, à data, pertencia ao Reino de Leão, um tratado foi assinado, entre dois primos, Afonso Henriques e Afonso VII. Desse tratado resultou o reconhecimento da independência do reino de Afonso Henriques e o início do mais antigo Estado-Nação da Europa: Portugal. Apesar da importância do tratado, a verdade é que são poucos os que vêm, na data 5 de Outubro, a oportunidade de galvanizar a nossa importância histórica, enquanto país. Infelizmente, tendemos a dar mais importância ao 10 de Junho, data com origem nos finais do seculo XIX, mas mais instrumentalizada pela ditadura do Estado Novo e que, em bom rigor, nasce mais como exaltação a um génio da pátria – Luís de Camões – e pouco tem que ver com a própria Nação.

Há 105 anos, em Lisboa, no culminar do golpe de estado iniciado dois dias antes, pelas 9 horas da Manhã, José Maria Mascarenhas Relvas de Campos, membro do Directório do Partido Republicano Português, proclama a Implantação da República Portuguesa. De repente, deixamos de ter na chefia do Estado, um rei, uma personagem que recebia o seu poder fruto, apenas, da sua relação familiar e passamos a escolher um representante, de entre nós, a quem conferimos um mandato, limitado no tempo, e cuja obrigação é zelar pelo cumprimento da vontade do soberano Povo Português. Com os seus defeitos e virtudes é o sistema politico que mantemos, em Portugal. É por isso que não consigo perceber por que motivo o Sr. Presidente da República optou por não estar, hoje, presente para homenagear um sistema político, que o elegeu e o tem como representante máximo. Tal atitude revela uma total falta de respeito para quem o elegeu e grave incoerência, mais própria de quem não é capaz de perceber qual o seu papel, para com a história e o Povo que representa.

Ontem, em Portugal disputaram-se eleições legislativas e fomos chamados a escolher quem queremos que nos represente, no Parlamento da República. Exerceu-se uma das virtudes daquele sistema político, que Winston Churchill apelidou de “a pior forma de governo, salvo todas as demais formas que têm sido experimentadas de tempos em tempos" – a Democracia. Em liberdade e em consciência, acredito, os portugueses decidiram conferir mandatos a 99 candidatos da coligação CDS-PSD, a 85 candidatos do PS, a 19 candidatos do Bloco de Esquerda, 17 candidatos da coligação PCP/PEV, a 3 candidatos do PSD Madeira, a 2 candidatos do PSD Açores e a 1 candidatos do PAN[i]. Ora, daqui resulta que o Parlamento se dividira em duas grandes áreas: A direita disporá de, pelo menos, 104 deputados e a esquerda de, pelo menos, 121 deputados. Isto significa que a direita vence as eleições, mas a esquerda tem uma maioria parlamentar. Sem qualquer medo das palavras, Portugal tem à espreita uma crise politica que, se vier a materializar-se, põe em causa todos os sacrifícios que estamos a fazer, desde Março de 2010 (data de apresentação do PEC 1, pelo XVIII Governo constitucional, liderado por José Sócrates). Por um lado, o Presidente da República irá cumprir a tradição democrática de convidar a coligação CDS/PSD para formar um governo, que a esquerda promete reprovar. Por outro lado, o chumbo do programa de governo ou a aprovação das moções de censura prometidas à esquerda, pode levar ao absurdo de serem convidado partido que perdeu as eleições (PS) a formar governo, em coligação, com os elementos mais radicais da política nacional. Por ultimo, tudo isto se arrastará até, pelo menos 6 de Março de 2016, altura em que se poderá dissolver a AR e marcar novas eleições, levando a eventuais perdas para Portugal e os Portugueses.

Concluindo, o 5 de Outubro de 2015, é, para um português orgulhoso e para um republicano convicto, um marco histórico importante. Mas, para um cidadão que acredita nas virtudes do sistema democrático, constitui um derradeiro teste às suas convicções. Por um lado, não quero crer que os partidos políticos do arco da governação (CDS, PSD e PS), não conseguirão gerar os consensos necessários à estabilidade governativa. Por outro lado, não creio que seja possível que, forças politicas com ideias de futuro para o pais tão diferentes, como PS, BE e CDU, possam, em primeiro, aceitar governar um pais depois de perderem eleições e, em segundo, conseguir conciliar politicas pró e contra União Europeia, pró e contra integração no Euro e na NATO, pró e contra o respeito integral dos compromissos com os nosso credores, para poder governar. Finalmente, acho que, porventura, esta é a altura ideal para, em Portugal, se implementar a experiencia de países, como a Holanda, onde a cultura dos governos de coligação, pós-eleitoral e no interesse nacional é tónica do sistema político.



Carlos Bianchi

Advogado

Castro Daire.



[i] À hora que escrevo ainda não foram divulgados os resultados relativos aos 4 mandatos correspondentes aos círculos eleitorais relativos aos emigrantes portugueses.

sexta-feira, 10 de julho de 2015

Pão e Circo

Citando Juvenal, na sua obra "Sátiras", o que vamos vendo é «pão e circo», à nossa volta. Esta forma de fazer política é já clássica e percorre a Europa e o mundo, há mais de dois mil anos. Claro que, tal como a sociedade foi evoluindo, ainda que mantenha, na sua essência, a intenção de iludir os cidadãos em relação aos seus reais problemas. A mais recente demonstração de tal política chega-nos da Grécia, com o referendo de 05 de Julho de 2015.
Os mais encarniçados vão, já, dizer: «eis mais um exemplo de inaceitável chantagem sobre uma nação soberana e mais um exemplo de indecoroso desprezo pela democracia». Nada mais errado!
Os referendos devem ser um mecanismo de controlo e reforço das legitimidades que resultam de eleições, livres e democráticas. No caso Grego, estando o partido, vencedor de eleições, com um programa que apostava em reestruturação de uma divida e na diminuição das medidas de austeridade, deparado com a inevitabilidade de ter de aumentar a austeridade e não conseguir pagar as suas obrigações, faz sentido que pergunte ao povo o que este pretende fazer. É até uma consequência da ética democrata – sempre que existe um ponto que não foi sufragado deve saber-se qual a intenção do cidadão e agir em conformidade. É desses referendos que necessitamos todos, para evitar os fenómenos de desinteresse pela vida política, que vemos nos nossos concelhos e países. É dessa democracia directa que não podemos temer, porque dela resulta um reforço da união entre povos, da solidariedade entre nações e um regresso aos valores que estiveram presentes na fundação da União Europeia.
Coisa diferente foi o que se passou no passado domingo, dia 05 de Dezembro de 2015. O que o SYIZA fez ludibriar o povo grego, instrumentalizando-o para, com isso, colocar os credores na situação de não receber o que emprestou à Grécia. A pergunta colocada ("Deve ser aceite o plano do acordo que foi submetido pela Comissão Europeia, pelo Banco Central Europeu e pelo Fundo Monetário Internacional no Euro Grupo de 25.06.2015 e que compreende duas partes, que constituem a sua proposta unificada? O primeiro documento é intitulado "Reforms For The Completion Of The Current Program And Beyond" e o segundo "Preliminary Debt Sustainability Analysis") era, o mínimo, incompreensível! Os documentos dos credores não foram explicados aos cidadãos! As propostas dos credores não foram sequer referidas, na campanha que antecedeu o referendo! A consulta ao povo é feita, já depois, de ultrapassados os prazos do acordo anterior com os credores! De uma forma simplista, os partidos que apoiavam o NÃO, limitaram-se a fazê-lo corresponder à recusa da austeridade! Salvo o devido respeito, isto não é uma forma séria de fazer democracia.
O que aconteceu, no dia 05 de Julho de 2015, foi um plebiscito. Ora, os plebiscitos, como todos recordarão, sob a aparência de consultas democráticas, são instrumentos próprios das ditaduras, sejam elas, de direita ou de esquerda. Aliás, só assim se explica que Marine Le Pen tenha podido vir a público dar os parabéns aos gregos, por terem sido um exemplo da democracia que ela despreza. Tal como só assim se compreende que haja muitos comentadores a fazer a leitura de que o SYRIZA viu a sua votação aumentar para quase o dobro. O resultado é, ao contrário que muitos dizem, uma diminuição da democracia e um efectivo prejuízo para os cidadãos.
Concluindo:
Nos últimos dias, a democracia, apesar do que muito se afirma em contrário, saiu prejudicada, porque um seu importante instrumento (o referendo) foi usada de forma errada e pouco séria.
Nos últimos dias, os gregos, de uma forma inconsciente e por terem sido instrumentalizados para isso, acabaram por agravar a sua posição perante o Euro e a União Europeia.
Nos últimos dias, um governo que se diz revolucionário, europeísta e de esquerda, o que mais conseguiu foi fazer aliados, naqueles que querem ver implodido o projecto europeu.
Apesar de tudo isto, se utilizado de forma séria e responsável, um referendo não pode, nem deve fazer temer os democratas, pois a consulta do povo apenas pode ser visto como uma das mais nobres e éticas formas de fazer Democracia.
Permitam que se deixe aqui uma outra imagem capaz de demonstrar a nossa opinião. Ao nível local, os partidos apresentam (muitas vezes fingem apresentar) um programa de governo das nossas autarquias. Nesse programa referem (muitas vezes deveriam porque não o fazem) as obras que pretendem realizar. Quase sempre, depois de eleitos, os partidos deparam-se com obras projectadas, com financiamento quase assegurado e em fase quase final, que não referiram no seu programa eleitoral. Muitas vezes essas obras são de duvidosa utilidade, representam um encargo para a autarquia e retiram-lhe a capacidade financeira para assegurar outras despesas, mais uteis e mais prementes. Porque não referendar a execução de tais obras? Porque não consultar os cidadãos para conferir aos executivos municipais, a legitimidade que não têm, por tal assunto não ter sido discutido e sufragado?

Carlos Bianchi

quarta-feira, 17 de junho de 2015

(IN)CONSEQUÊNCIAS.

Não querendo parecer um daqueles escritores que, há falta de melhores referências, se vai auto-citando, a minha ausência (deste mundo da “opinião” escrita) é consequência, directa, da «reforma» do Mapa Judiciário. Nem podia deixar de ser. Afinal, como há muito previ, a necessidade de me deslocar (e comigo muitos cidadãos e colegas) para a cidade de Viseu, vai-me tirando o tempo que preciso para realizar muitas outras coisas, como escrever. Tal como a perda dos tribunais (mesmo que se mantenham as secções de proximidade) tirou, aos nossos concelhos, muitas das pessoas que ali realizavam os seus negócios do dia-a-dia, sempre que havia «juro». O Scolari tinha razão!!!

Deixando de lado os lamentos, abordo o episódio grego que vamos vivendo. O SYRIZA está, efectivamente, a fazer aquilo que se comprometeu com o povo grego – está a tentar negociar com os credores, melhores condições para o pagamento da sua dívida e alterar as condições da austeridade que lhe foi imposta. O problema é a técnica de negociação que está a ser usada pelo governo. Que me perdoem os gregos, mas negociar na base do “quero ir para ilha” ou do “agarrem-me senão eu atiro-me” parece-me errada, embora tenhamos todos ouvido muitos avanços e recuos da parte da liderança europeia (refiro-me claramente às posições da Alemanha e da França). As consequências reais da actual posição grega são, ainda, difíceis de prever, sendo certo que a saída do EURO, por parte da Grécia levará, inevitavelmente, ao apontar de armas ao país mais fraco do elo. Temo que o senhor que se segue seja o nosso Portugal!!!

Deixando as tragédias gregas, volto-me para Portugal e para as futuras eleições legislativas. De um lado, uma coligação que governou o País, em condições difíceis e sem soberania, submetida a um regime de supervisão estrangeira. Fez tudo bem? Claro que não, mas governar tem esse problema – nem sempre se acerta. Mas fez tudo o possível, para que o País saísse da situação em que estava? Acredito que sim e a verdade é que, hoje, já não estamos sob supervisão, hoje já temos condições de obter financiamento externo com alguma facilidade, hoje já podemos ver alguns sinais de melhoramento da economia. Falta realizar o que todos esperamos – melhorar as condições de vida dos Portugueses. Do outro lado, os partidos de oposição tradicionais. O maior partido de oposição, sem um quadro de soluções alternativas, apostando na politica do centro e à espreita, depois de um golpe palaciano, de regressar ao governo. Os demais apostados em dizer, sempre sem demonstrar, que tem uma visão e propostas alternativas, mas que rejeitam ser solução de governo. Além disso, surgem os fenómenos dos novos partidos, nascidos do despeito ou num quadro de populismo fácil. A verdade é que os Portugueses vão ter de escolher entre estas soluções, cientes de que a sua escolha irá ser essencial à sobrevivência do País. Que a escolha seja feliz!!!

Deixando a reflexão sobre o País, volto-me para o meu Concelho. Sofrendo com o facto de ser um concelho do interior, parece-me que estamos a sentir essa condição, como um fado intransponível. Parece que sentimos ser o nosso destino o despovoamento, a ausência de investimento, a incapacidade de gerar novos empregos, a falta de aposta no nosso património. É verdade que, o facto de o nosso Município não ter uma aposta clara em políticas de desenvolvimento e divulgação contribui para isso. Também é verdade que, se estivermos mais preocupados em festas e episódios mais próprios para a fotografia de ocasião, do que em apresentar soluções para Concelho, contribuímos para o empobrecimento de Castro Daire. Mas terá de facto que ser assim? Claro que não. Porque não apostar na criação de condições de instalação de novas empresas no concelho, concedendo isenção de taxas, cedendo espaços para as necessidades iniciais, operando a reversão dos lotes não edificados na zona industrial e colocando-os, de novo, à disposição dos novos investidores? Porque não deixar de realizar festas pontuais, apostando na criação de um programa anual de realização de eventos, de forma integrada e que permitam a divulgação da nossa Serra, dos nossos rios, das nossas termas e do nosso património histórico, trazendo cá o que nos falta - gente? São apenas duas ideias, mas delas resultaria a criação de uma nova dinâmica para o concelho!!!

Deixando, agora, a visão sobre Castro Daire, volto-me para algumas questões mais pessoais. Há quem julgue importante divulgar o seu papel de crítico destrutivo e sem constituir alternativa real, em certos sectores da sociedade. Existem alguns que, sendo incapazes de alcançar objectivos pessoais, pelo mérito, se dedicam à maledicência, à intriga e à criação de suspeitas sobre quem, na sua visão retorcida, constitui um obstáculo, aos seus objectivos. O resultado destas acções é, sempre, a conquista de «vitórias» pessoais e efémeras. Contributo para o enriquecimento da comunidade e/ou entidade? Nenhum. Constituição de uma alternativa real? Como diz o nosso povo, ZERO. Não é tempo de nos deixarmos de olhar só para o nosso umbigo? Creio que assim fosse todos ganharíamos mais!!!

Carlos Bianchi.

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

As Eleições Gregas do passado dia 25-01-2015

Historicamente, a Grécia Antiga é a idílica pátria de alguns dos direitos fundamentais da Humanidade (pelo menos, na visão ocidental que temos deles).Claro que esta nossa «visão» é anacrónica e simplista quanto à realidade histórica.
No Domingo passado (dia 25 de Janeiro de 2015), a Grécia Moderna passou, por um dos mais importantes da vida democrática – a realização de eleições – e o povo grego, em liberdade e de forma esclarecida, teve a oportunidade de eleger os seus mandatários, para os próximos tempos.
Há muitos que, por aí, vão augurando o surgimento de uma nova vaga de crise, por conta do discurso anti – austeridade do partido mais votado. Outros há, que vêem, nos resultados das eleições gregas, uma vitória da linha de pensamento mais esquerdista que os vai catapultar para vitórias nacionais. Na minha modesta opinião, os comentadores mais à direita e à esquerda que tenho ouvido e lido, sofrem da mesma miopia e propensão para o simplismo, dos que acham que a Grécia Antiga é o local de origem da Democracia e da Liberdade, enquanto princípios, com o conteúdo que hoje lhes damos.
Em primeiro lugar, parece que os analistas se esqueceram que o SYRIZA, que se apresentou a eleições no dia 25 de Janeiro de 2015, já não é o que nasceu em 2004, nem o que foi para as ruas em 2010. Na verdade, a coligação de esquerda radical grega abandonou o discurso anti-europeu e anti-moeda única, porque percebeu que uma Grécia, sem a Europa, levaria a mais crises económicas e sociais. Manteve, honra lhe seja feita, a base anti-austeridade do seu pensamento, apresentando ao povo grego, o seu caminho e o seu modo de lidar, com a crise económica que o seu país atravessa. Mas fê-lo, com propostas concretas e explicando as suas consequências aos gregos, sem se importar muito com as ameaças externas, que, salvo melhor opinião, constituíram uma forma intolerável de chantagem sobre uma nação soberana.
Em segundo lugar, o SYRIZA já demonstrou, nos últimos dias, quanto pode ser flexível, ao aliar-se a um partido conservador, eurocético, nacionalista e xenófobo, para formar governo. Em comum, SYRIZA e ANEL têm uma única coisa, a política anti-austeridade. No resto, não podiam ser mais diferentes. O que prova que o radicalismo pode soçobrar às necessidades de manter o poder.
Em terceiro lugar, a vitória do SYRIZA, na Grécia, pode dar alento a movimentos, como o «Podemos» espanhol, mas, dificilmente, será um factor de alavancagem, para a esquerda radical portuguesa. Isto porque, os movimentos da esquerda radical portuguesa, ao contrário do SYRIZA, o que fazem é dizer que há alternativas à austeridade, mas não dizem quais, nem nos explicam que consequências teriam. Ora, os portugueses, como os gregos, também querem saber o que pode acontecer, se trilharem um rumo alternativo, mas nunca o farão se não souberem quais as consequências. Logo, dificilmente a esquerda radical portuguesa terá, do povo, um «cheque em branco». Escaldados já estamos todos.
Em quarto lugar, a própria Europa já percebeu que a política económica tem de mudar. As mais recentes propostas de Mário Draghi e Jean-Claude Juncker, para financiar o sistema financeiro, por um lado, e apoiar o crescimento das empresas, por outro, deixam antever que a austeridade, por si só, não é solução para a crise económica que atravessamos.
Para terminar nestas eleições, partidos, como os Gregos Independentes e a Aurora Dourada cresceram. Olhe-se para aquelas forças políticas e para as Frente Nacional francesa e belga, o British National Party inglês, o PND alemão, o PVF finlandês, o PPD da Dinamarca, os Partidos da Liberdade austríaco e holandês, o Movimento por uma Hungria Melhor e a Liga Norte de Itália e vemos, com preocupação, por certo, uma o crescimento de uma linha de pensamento – a do isolacionismo xenófobo e ultranacionalista. Exactamente, o contrário do ideal de construção da União Europeia – “o desejo de criar um continente mais livre e justo à medida que as relações entre países se iam desenvolvendo de forma pacífica, para evitar por todos os meios um novo conflito entre os países europeus. Isto, sim, é algo que nos deve preocupar a todos, porque pode significar o regresso da Europa da primeira metade do seculo XX.

Carlos Bianchi
Advogado
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sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

O Novo Mapa Judiciário (2)

Voltando ao último assunto publicado, no final do ano passado, além de não constituir uma verdadeira reforma da Justiça, a reorganização dos Tribunais Judiciais, levada a cabo por este Governo, é, na prática, um atentado à coesão nacional, deste nosso Portugal, porque agrava os efeitos da desertificação e empobrecimento dos Concelhos do interior.
Poderíamos sempre dizer que a reorganização dos Tribunais é uma medida típica de quem não conhece, verdadeiramente Portugal, de quem se senta, confortavelmente, num gabinete em Lisboa e desconhece as dificuldades do Interior, de quem pensa que Portugal se limita ao Litoral e às grandes cidades. Tais afirmações são verdadeiras, até porque a reorganização dos Tribunais e os acontecimentos posteriores demonstram a incompetência e falta de visão de quem os levou a cabo. Afinal a experiencia de quem recorre, hoje aos Tribunais, demonstra que:
a)      A restruturação que pretendia, supostamente, aproximar os cidadãos da Justiça, colocou-nos a mais quilómetros do seu Tribunal e sem meios de transporte públicos que ali nos levem.
b)     A reorganização que queria, alegadamente, fazer com que os serviços de Justiça fossem mais céleres, resultou em maior morosidade na marcação de audiências e diligencias.
c)     A nova forma de distribuição das Comarcas que visava, pretensamente, trazer um maior respeito pelos cidadãos, gerou ainda mais situações de desrespeito para todos nós, nomeadamente com mais marcações de diligencias para a mesma hora e dia (com consequentes maiores atrasos para todos), mais desmarcações de audiências em cima da hora e com novas formas de desconsideração, como sejam as alterações de local de audiências agendadas com avisos de menos de 24 horas, feitos por telefone para os advogados e indicando que estes deveriam avisar as partes e as testemunhas.
d)     O novo mapa judiciário que, hipoteticamente, aspirava a tornar a justiça mais económica, criou a injustificada submissão da realização de diligências, como uma simples inspecção ao local, à existência de dotação orçamental (obrigando o Tribunal a «esquecer» o interesse de realização da Justiça material).

Seria muito fácil atribuir as culpas de tudo isto ao actual Governo, uma vez que protagonizou a materialização de tal reorganização. Mas tal exercício seria sempre incompleto e até pouco sério.
O actual governo é responsável pela medida que tomou, tendo a sua decisão sido tomada de uma forma pouco cuidada e não teve em atenção as necessidades dos cidadãos e do Interior do País.
Mas a reorganização dos Tribunais é consequência de outras políticas que não tiveram em atenção os interesses do País e dos seus cidadãos.
Nomeadamente:
1º -         A reorganização actual dos Tribunais não é muito diferente da protagonizada pelo Governo Socialista de José Sócrates e pelo Ministro Alberto Costa, também ela delineada a pensar no litoral e nas grandes cidades, pretendo concentrar os serviços de Justiça em Tribunais centrais e esvaziando os concelhos mais pequenos e menos populosos.
2º -         A política de investimentos e aproveitamento dos dinheiros comunitários seguida, anos a fio, pelos governos nacionais privilegiou, sempre, as obras visíveis e os grandes grupos económicos, esquecendo as pessoas, quer no âmbito da formação, quer no que, á criação de emprego, diz respeito.
3º -         Os autarcas do Interior estiveram sempre mais interessados na lógica da contagem de espingardas e no caciquismo, do que em trazer para os seus Concelhos investimentos, visibilidade e pessoas.

Cabe-nos a todos reconhecer as responsabilidades próprias para a criação da tempestade perfeita que permitiu que, de repente, serviços públicos essenciais se extingam nos nossos Concelhos.
Feito esse reconhecimento, cabe-nos a todos mudar o rumo das nossas políticas e descobrir novas formas de captar investimento e criar riqueza.
Só assim o Interior do País pode ser desenvolvido e só assim Portugal pode ser uma nação forte, coesa e bem-sucedida.

Porque não reflectir sobre isto?

Carlos Bianchi
Advogado
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