Começamos por dizer que o património
de que falamos não é, apenas, constituído pelos bens físicos de que, de uma
forma ou outra, utilizamos no dia a dia. A estes acrescem os nossos valores, as
nossas convicções e as nossas tradições.
Assim, constituem o nosso património
o respeito pelos símbolos da nossa pátria, a matriz dos valores a que devemos obediência,
aqueles momentos que vivemos, entre outros. E, sem qualquer dúvida, que, no
nosso património, entram, também, as obras de arte, edificadas ou adquiridas,
por nós e pelos nossos antepassados, que pretendemos deixar para os nossos
descendentes.
Olhando assim para o património, não
deixamos de considerar que, infelizmente, não lhe dirigimos o melhor do nosso
tempo, nem a necessária atenção. Hoje, cada vez mais perdemos a noção da importância
que ele deve ter, no nosso dia-a-dia.
Não acredita, o amigo Leitor?
Há já algum tempo que, no edifício
do Tribunal de Castro Daire, esvoaça uma Bandeira Nacional, puída e esfarrapada.
Passamos por ela, distraídos e sem a vermos, habituados à sua triste existência.
Não será já tempo de ser substituída?
Há muito que, em Portugal, a propósito
de futebol, surgem discursos radicalizados, violentos e sem qualquer assomo de
desportivismo. Falamos do que alguém disse ser a “coisa mais importante de
todas as coisas que importam coisa nenhuma”. Não é já tempo de vermos o futebol
como o que, na realidade, é – apenas um desporto?
Regressando a Castro Daire, um edifício,
património nacional, como o Mosteiro da Ermida, está votado, há anos, a um inexplicável
desconhecimento. Trata-se de uma obra de arte, muito singular, pouco divulgada
e pouco conhecida do público, pese embora o esforço dedicado de muitos que o
estudam e estudaram. Obra edificada, aliás, muito próximo da rota do Românico,
mas ignorada por esta. Não será já tempo de tentar, com o seu proprietário,
fazer divulgar esse monumento e, com isso, trazer ao concelho mais visitantes,
mais investimento e maior desenvolvimento?
Finalmente, a propósito de
algumas posições públicas sobre, por exemplo, as touradas há quem se horrorize
pela defesa da tradição tauromática. Mesmo quando (e bem) defendem, apreciam e
publicitam tradições como as nossas Lutas de Bois. Não será tempo de refletir
sobre essa incoerência?
Estes nossos 4 exemplos servem
apenas para provocar a reflexão sobre que prioridades damos ao nosso património,
material e imaterial, comunitário ou pessoal. Em suma, ao nosso quadro de referências
que queremos deixar aos nossos filhos e netos.
E, como todas as nossas publicações,
expressam a nossa, singular opinião, que, valendo o que vale, nos vincula,
individualmente. Claro que haverá sempre quem, que sobre isto, faça uma leitura,
pessoal e que reflete a sua própria convicção, diferente da do autor. É o problema
de qualquer comunicação, consciente, livre e voluntária – exige sempre um emissário
e um receptor e, se escrita, será permanente. Umas vezes ignorada, outras vezes
hipervalorizada.
É a vida!
Carlos Bianchi
entre-o-montemuro-e-o-paiva.blogspot.pt
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