quinta-feira, 3 de maio de 2018

Porque quem nos elege assim o exige


Dizem os teóricos da comunicação que, quem emite uma mensagem deve evitar falar dos assuntos, de forma pessoal e apaixonada, para evitar erros na interpretação da mesma. Dizem, também, que devemos evitar falar de algo, sempre que, quem ouve, lê ou vê, possa retirar a conclusão de que nos estamos a auto-elogiar.

Concordo com estes princípios, mas, neste texto, irei falar na primeira pessoa, de um assunto em que imprimirei a minha visão e experiência pessoais. Mais, fá-lo-ei da única forma que conheço para encarar a vida: de forma livre, frontal, directa e plena de convicções.

Escrevo poucas horas após ter participado na Assembleia Municipal de Castro Daire de 23 de Abril, enquanto membro da mesma. E a poucos minutos da celebração do dia da Liberdade que apesar, de ter sido apropriado por alguns, é de todos nós.

Eleito por indicação do CDS – partido de que sou, convictamente, militante, pese embora tenha a minha opinião e mantenha, em pleno, o direito a expressá-la, sem quaisquer limitações e reservas – poderia ter, há muito, feito nota pública da minha tomada de posse, que ocorreu em 23 de Outubro de 2017.

Não o fiz, entendo que tinha a obrigação de tomar posse e dedicar-me ao órgão autárquico. Não pela honra de ser deputado municipal, mas porque todos os que votaram, assim, o exigem. É que, bem vistas as coisas, o exercício de qualquer cargo político, que decorra de eleições, exige, dos eleitos, acima de tudo, espírito de missão, vontade de servir quem nos elege. Tão só!

Diferente intenção presidirá a quem exerce cargos políticos que dependem, não do povo, mas de uma nomeação, assente em critérios, ocultos e não explicados. Mas disso, ainda, não falarei. Por ora e só por agora!

Mas voltando ao assunto que me traz aqui, volvidos 6 meses, na Assembleia Municipal foram já discutidos vários assuntos, todos de interesse do concelho, embora nem todos sejam dominados pelos munícipes. E assuntos houve, que apesar de discutidos, não foram alvo de qualquer deliberação, porque correspondem, unicamente, a opções e competências próprias do Executivo.

Mas falemos da discussão de dois instrumentos que, apesar de muito técnicos, nos dizem respeito: os documentos de previsão para 2018 e os documentos referentes à gestão de 2017.

Comecemos pelos planos previsionais para 2018. Estes apesar de tudo, têm algumas semelhanças aos dos anos anteriores. Compreensivelmente, porque realizados pelo novo Executivo, poucos meses após a sua tomada de posse. E sem ainda os dados completos da execução orçamental de 2017. Não havendo tempo para que neles se imprimissem, desde já, as opções políticas do programa eleitoral, não poderiam ser muito diferentes. Convicto de que deveriam responder às preocupações e expectativas dos Castrenses, percebi que o que não fazem totalmente. Ainda assim, entendi que lhes devia dar o benefício da dúvida e aprovei-os.

Aprovei, também, os relatórios de gestão e de contas referentes ao ano de 2017, porque entendo que os mesmos refletem o estado das finanças do nosso Município.

O Município dispunha, em 2017, de um orçamento na ordem 28,6 milhões de euros. Recebeu 56,67% do previsto (a terceira mais baixa taxa de execução, desde 2010). Pagou 54,12% do orçamentado (a mais baixa taxa de execução, desde 2010). Executou apenas 36,67% das Grandes Opções do Plano. Assumiu compromissos na ordem dos 31,6 milhões de euros, dos quais 10,3 milhões de euros serão imputáveis aos exercícios de 2018, 2019 e 2020. Teve um resultado líquido do exercício negativo (menos € 2.092.657,75). Aumentou a sua dívida em 40%. A tudo isto acresce que existem particulares e empresas que reclamam o pagamento de € 757.369,00 de fornecimentos sem que estejam documentadas as autorizações de realização de despesa. Valores que não estão ainda reflectidas nas contas, apesar de referidos nos documentos posto a votação. Apesar de tudo isto, em 01 de Janeiro de 2018, existia um saldo de gerência positivo de cerca de 4,4 milhões de euros, sendo que destes cerca de 4 milhões de euros se referem a valores que estão consignados a despesas (nomeadamente os referentes aos empréstimos para realização de obras especificas) e responsabilidades (por exemplos valores referentes a cauções). Pelo que o Município não pode despender, livremente desses valores.

Dizendo, de outro modo, os documentos de gestão do ano de 2017 revelam que existem dificuldades a que o Executivo tem, necessariamente, de responder. Até porque sem equilíbrio financeiro, não será possível responder às expectativas de todos. Mas estavam em condições de ser aprovadas, embora com algumas reservas. Foi o que fiz, votando a favor da aprovação dos documentos e explicando esse meu voto, na declaração de voto que elaborei e subscrevi, em conjunto, com vários deputados municipais do grupo parlamentar do PSD.

Aqui chegado, cumpre-se-me apenas dizer votei, a favor dos documentos, na convicção de que o fazia em consciência, pelas razões explicadas. Mas também com a certeza que estão ultrapassadas as singularidades que se colocaram, até aqui.

É que, de futuro, deixam de existir quaisquer justificações para que se não aprenda com o passado e se não expliquem os fundamentos para as decisões tomadas. E cá estaremos, para a cada momento, se reflita sobre o assunto que vier à discussão, sempre com vista ao interesse dos que nos elegeram.

Mas, nada de novo, aí. Pois, ainda nesta última Assembleia Municipal, todos os deputados municipais tiveram ocasião de aprovar duas moções, apresentadas por deputados do PS, que tinham como assuntos a necessidade urgente de requalificar a EN 225 e a Escola Secundária de Castro Daire. E aprovámo-las porque (e bem) as mesmas foram colocadas a votação, por proposta da Mesa (cuja justificação me coube a honra de fazer) e por decisão da Assembleia, que, cumprindo o regimento, admitiu a sua inclusão na ordem de trabalhos. Os assuntos exigiam, pela sua urgência essa tomada de posição e os deputados, souberam (e bem) colocar-se ao lado do Concelho.

Para terminar e porque já vai longo o texto, a propósito de uma velha, estafada, mas sempre actual ideia – o preconceito de que as pessoas de qualidade se afastam da política, por causa das quezílias e questiúnculas, sem interesses para o cidadão comum – digo que, assim, não é. Seja porque dizer isso é cair na mais popularucha demagogia e, se dito por um político é um exercício de autoflagelação desusada. Seja porque acredito que todos os que se colocam, efectivamente, se colocam ao serviço dos seus cidadãos, não se afastam da política e exercem os seus cargos com o espírito de missão que se lhes impõem. E, prova disso, é a Assembleia Municipal de Castro Daire.

NOTA FINAL: foram aprovadas, na Assembleia da República, para discussão em plenário, os projectos de resolução do CDS, PSD e PEV, sobre as obras na escola secundária de Castro Daire.

Carlos Bianchi

(Por opção e convicções próprias, escrevo segundo as regras anteriores ao acordo ortográfico)