sexta-feira, 17 de abril de 2020

"A soberania (...) reside no povo," 25 de Abril de 2020


Desde 1974 e a propósito do 25 de Abril, Portugal assiste a uma luta político-ideológica (idiota e sem sentido) sobre a Revolução que não honra os seus ideais e os seus verdadeiros heróis.

De um lado, os que se arrogam «donos de Abril» e da nossa Democracia. Do outro lado, os que suspiram com saudade do “estado a que chegamos”, do autoritarismo, do paternalismo e do providencialismo do passado.

Salgueiro Maia (a quem devemos estar gratos pelo exemplo de desapego e abnegação com que encarou Abril) responderia a ambos: Meus senhores, fizemos a Revolução em nome e por conta de todos os Portugueses e só eles podem ser considerados proprietários do que fizemos!

Este ano, em que o Povo Português tem de estar recolhido nos seus lares, devido à crise pandémica que atravessamos, esta divisão ideológica faz menos sentido. E só a essa luz se compreende a decisao tomada de celebrar Abril com a sessão solene na Assembleia da República.

Dir-se-á mais: a decisão revela mesmo que a Democracia Representativa está definitivamente a morrer. Nenhuma mulher, nenhum homem com assento na Assembleia da República, representa quem quer que seja do nosso Povo – para muita tristeza minha nesta conclusão.

Os parlamentares que votaram a favor da comemoração desrespeitaram todo um Povo que está obrigado, há mais de um mês, a ficar recolhido por um dever geral de recolhimento que a defesa da sua saúde, da saúde de todos, lhe impõe. Mas também todo o esforço dos que não podem estar recolhidos estão a fazer para que possamos todos ficar bem.

Os parlamentares que votaram contra, fizeram-no, não por um verdadeiro respeito para com Abril, mas porque dele não gostam por razões bafientas e porque o que queriam era celebrar o regresso do um qualquer velho Estado Novo.

Qualquer portuguesa e qualquer português, patrióticos e democráticos, tem o dever de demonstrar o seu desacordo com a decisão.

Sim, porque ser patriótico não é ser seguidista ou omitir a sua indignação. É precisamente fazer o contrário.

Sim, porque agir eticamente não é silenciar o que pensar, deixar de questionar uma decisão com a qual não concorda. É precisamente agir em consciência e dizer o que se sente.

Este ano celebrarei o 25 de Abril de 1974, como o faço há 42 anos. Mas não do modo como o tenho feito. Porque o devo ao meu país e a homens como Salgueiro Maia.

Ele saiu á rua acompanhado com outros militares para pôr cobro ao Estado a que chegamos, por amor à liberdade e pelos milhares que perdiam a vida no Ultramar.

Eu, desligarei televisão e rádio à hora da sessão solene, hastearei a bandeira do meu País, colocarei o cravo ao peito e ficarei em casa. Por amor à liberdade e à democracia. Pelos que morreram já nesta crise pandémica. Pelos milhares que estão em isolamento social há mais de um mês. Em honra dos verdadeiros heróis anónimos que diariamente asseguram que o País combate os efeitos da pandemia. E porque, neste dia, ninguém poderá dizer que me representa, numa casa e num evento que Portugal não quer.

Carlos Bianchi.

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