“…considerando o
crescente clima de total afastamento dos Portugueses em relação às
responsabilidades politicas que lhe cabem como cidadãos, em crescente
desenvolvimento de uma tutela de que resulta constante apelo a deveres com
paralela denegação de direitos;
considerando a
necessidade de sanear as instituições, eliminando do nosso sistema de vida
todas as ilegitimidades que o abuso do poder tem vindo a legalizar…”- in proclamação
do Movimento das Forças Armadas, tornada publica às 11 horas da manhã do dia 25
de Abril de 1974.
Começo este meu texto citando algumas das razões que, segundo
o Movimento das Forças Armadas, motivaram a realização da Operação Fim do
Regime.
Quarenta anos depois, vivemos num estado democrático, onde
liberdades como a de expressão, a de voto, a de participação popular nas decisões
do poder estão consagradas.
Mas será que aqueles considerandos não se repetem hoje?
Veja-se:
1º - Os Portugueses continuam afastados das
responsabilidades políticas (e não) que lhes advêm da sua qualidade de cidadãos.
Provam-no as crescentes abstenções, os crescentes apelos ao
voto em branco e nuloo total afastamento dos momentos em que podem e devem
participar nos órgãos autárquicos… Dizem alguns, que tal se deve à qualidade
dos políticos actuais. Poderia até ser verdade, mas e o decréscimo do movimento associativo, a
fraca adesão às assembleias gerais das associações e às assembleias de
compartes também se devem à qualidade dos políticos?
Será que todos estes dados não são expressão apenas uma propensão
para o conformismo?
2º - As tutelas continuam a apelar constantemente aos
deveres, negando aos cidadãos os seus direitos.
Seja em nome da crise económica, seja em nome de um passa
culpas constantes, os diversos responsáveis políticos continuam a insistir no
apelo ao dever patriótico de pagar as dividas publicas, de suportar o gasto de
dinheiro sem critério e/ou objectividade, de aguentar com as consequências de
uma ineficiência dos sistemas de obras publicas, etc.
No entanto, os mesmo responsáveis são quem, na sua pratica,
nos negam o direito á Justiça mais próxima, o direito à aplicação de uma
politica de emprego capaz de fixar as pessoas no nosso concelho, o direito á implementação
de uma politica local de transportes mais eficientes, etc…
3º - Continuam por sanear as instituições as praticas que o
abuso do poder legitima, mesmo que legais.
De facto, quem não conhece casos evidentes de favorecimento
familiar, de favorecimento de amigos e de pagamento de favores, que, sendo
totalmente legais, só provam a colocação dos interesses pessoais à frente dos
interesses colectivos?
Quem não conhece altos responsáveis que, tendo beneficiado
de tais favorecimentos, no passado, não contestam hoje casos semelhantes, por
mero oportunismo?
Concluindo, feita a Revolução dos Cravos, por homens como
Salgueiro Maia, desassombradamente, em nome e em favor do Povo, a verdade é que
os vícios do antigamente, continuaram nesta nossa democracia.
Seja porque nós, cidadãos, continuamos, impávidos e serenos
a assistir de camarate ás mesmas coisas, sem nos movermos. Seja porque continuamos a acreditar que nada se pode fazer
para mudar o que está mal e se nos mexermos apenas podemos ser prejudicados.
Assim e sem mais, quer-me parecer que falta, pelo menos
nestas questões, cumprir Abril.
E que tal reflectir sobre isto?
Carlos Bianchi
2 comentários:
A principal razão pela realização da revolução do 25 de Abril provocada pelos Capitães de Abril(não pelo Movimento das Forças Armadas) foi aumentar os "direitos" dos Capitães na guerra colonial que decorria na altura, ou seja, um Capitão abdicar de estar na frente activa da guerra colonial e ter os mesmos "direitos" dos outros oficiais superiores.
Mas o que se vendeu no passado e o que se vende no presente é isso que escreveu.
A malta de esquerda e os comunistas sempre evidenciaram a liberdade e a democracia, mas se na altura os comunistas tomassem o poder será que podiamos fazer uso destas duas palavras? "Liberdade e Democracia"
No think so!!
Vejamos um exemplo de um país esteja a ser governado pelo comunismo como a Coreia do Norte, na qual o PC se identifica bastante, será que podemos fazer jus as palavras Liberdade e Democracia?
Com a entrada em cena da Revolução dos Cravos utilizou uma politica de esquerda não tão radical como o Comunismo, que foi o Socialismo.
Segundo o que nos diz a história, estas politicas governativas deixou o País por 3 vezes à beira da bancarrota, uma dívida de ~15% do PIB em 1974 para uma dívida ~130% do PIB em 2014.
São encargos que deixam os portugueses cada vez mais desacreditados do sistema politico actual e que cada vez desligam mais da responsabilidades políticas que o senhor escreve.
Pois é, mas disto ninguém fala, refletir sobre o nosso sistema politico actual.
Será que é o mais apropriado e o que garante um futuro mais risonho para os portugueses?
Meu caro Pensador...
1º - O 25 de Abril tinha uma forte componente corporativa?
Tinha, sim senhor.
E daí?
Não houve quem tivesse entrado na revolução por outras razões?
Não houve quem estivesse ao lado do Povo e pelo Povo?
2º - A questão da implantação de um regime autocrático comunista esteve em causa, no pós-25 de Abril, efectivamente... Abençoados os capitães de Abril que em Novembro de 1975 o não permitiram e abençoado povo que nas primeiras eleições livres derrotaram explicita e cabalmente a esquerda mais revolucionária.
E já que estamos nisto seria melhor que o golpe tivesse origem na vontade de Kaúlza de Arriaga? Em vez de virarmos à esquerda seria melhor um regime à Pinochet???
3º - O caro pensador fala e uma regime socialista que nos levou às dificuldades económicas... enganou-se... queria dizer social democrata, pois foi essa a ideologia base tanto de PS e PSD inicialmente (já agora os mesmos que votaram sempre a favor de uma Constituição que afirma a vontade de seguir rumo ao Socialismo)...
4º - A famosa narrativa da responsabilização dos políticos e dos partidos quanto à situação do país dá sempre jeito... Uma só alternativa credível, viável e real da sociedade civil como exemplo, p. f.!!!
5º - O nosso sistema politico actual é imperfeito, sem dúvida, mas além da democracia plural e com base na livre expressão, que mais???
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