O regime democrático português
tem, hoje, mais de 39 anos. Transpondo essa idade para a vida de um ser humano,
em condições normais, a democracia portuguesa teria feito a sua escolaridade obrigatória
há 24 anos, ter-se-ia licenciado (se assim fosse a sua vontade) há (pelo menos)
15 anos, estaria no mercado de trabalho há (pelo menos) 15 anos, seria mãe há
(pelo menos) 9 anos, etc…
Isto serve para dizer que não
é assim tao jovem a nossa democracia, nem a hipotética juventude serve para
justificar tudo, ou desresponsabilizar todos. No entanto, há ainda quem não tenha
percebido que, em Portugal, existe democracia e não tenha percebido quais as
regras que esta impõe à sociedade.
Escrevo isto, depois de
ficar a saber alguns episódios, que não sendo surpreendentes, são difíceis de
entender.
Um primeiro episódio é o de
um alto cargo da função pública que, tendo sido candidato autárquico, se
diverte a castigar o seu subordinado, apenas e só, porque teve a coragem de ser
candidato por outro partido. O estranho é que a candidatura onde esse dirigente
estava incluído usava, como bandeira eleitoral, o facto do adversário ser
conhecido por perseguir os subordinados. E ainda mais estranho se torna, quando sabemos que o funcionário castigado era totalmente dedicado ao tal dirigente.
Um segundo episódio é o de
um serviço público que, sendo dirigido por um candidato autárquico, não observa
nem o princípio da imparcialidade, nem o princípio do respeito pela livre expressão
da opinião. Utilizando o propósito, mais do que justo, de observar o princípio
da igualdade, nas compras que o organismo faz, o dirigente acaba por afastar a aquisição
de bens, no estabelecimento de alguém, que tinha razoes pessoais para ser adverso
(e não o escondia) a um outro candidato. Pasme-se, o dirigente e o candidato
faziam parte da mesma candidatura eleitoral.
Um terceiro episódio é o de
um funcionário público achar que pode ameaçar e insultar um seu colega, apenas
e só, porque este é candidato de um determinado partido e o director do seu
serviço integrar outra candidatura. Mas mais grave, é o facto de as ameaças se
concretizarem apos a campanha eleitoral.
Um quarto episódio é o de
uma pessoa, licenciada e aparentemente dotada de formação superior, que deixa
de socializar com outra, apenas e só, porque esta tem a coragem de ter uma
opinião própria. Mas mais grave é o facto de tal opinião contrária ter sido expressa em público
e em defesa dos interesses da população de uma dada aldeia.
Os
episódios atrás descritos provam que Abraham Lincoln tinha razão quando disse que: "se quiser pôr a prova
o caráter de um homem, dê-lhe poder. ".
Mas,
mais preocupantemente, provam que, ainda, há quem não saiba conviver
com as mais elementares regras democráticas, por um mero defeito do seu próprio carácter.
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