Depois de mais de um ano de dificuldades, criadas por uma crise pandémica, anseia-se pelo regresso ao normal. Mas nem todos as pessoas e sectores sentem esses anseios. Há mesmo quem já o tenha feito, com a mesma estreiteza de vistas de antigamente: voltou ao antigo normal, mas não aprendeu nada com o passado mais recente.
Em ano de eleições autárquicas era normal a realização de obras com urgência, porque não ter havido tempo de as fazer nos 3 anos anteriores. Era normal passar-se nas aldeias e vilas à cata de apoiantes a quem se prometia a segurança de uma emprego público, de um subsídio, de uma cunha, de uma benesse. Era normal um discurso (quando o há) cheio de lugares comuns, mas vazio de ideias e propostas concretas que respondam aos anseios das populações e, acima de tudo, olhem para os interesses do concelho – fixar pessoas e criar riqueza. Olhava-se apenas pela sobrevivência pessoal, ignorando-se os interesses colectivos. Parece que nada mudou!
Nada contra a ideia de que um concelho dotado de boas condições naturais e algumas potencialidades sub-exploradas queira colocar-se na rota do Turismo. Mesmo um concelho que tenha, por exemplo, uma estrada como a N225 no estado em que está ou uma ETAR concluída e que inexplicavelmente permanece sem funcionar. Mas a recente crise pandémica diz-nos que depender apenas deste sector é um erro – outra crise e tudo paralisa e definha. Mais quando é evidente que, como alguém mais sábio disse um dia: olhem para os destinos tradicionais por exemplo e vejam que os territórios que vivem quase exclusivamente do turismo nunca são ricos (a maioria em regra até vive miseravelmente).
Continua a faltar uma visão estratégica para o Concelho e um conjunto de políticas económicas integradas. E não, não basta dizer-se que vamos apostar na serra, no rio e nas Termas! É preciso muito mais. É preciso mesmo um novo «normal».
É preciso criar condições para o investimento. Porque não criar um conjunto de “polígonos de investimento” com pré-aprovação de licenciamentos para diminuir os custos com a burocracia?
É necessário olhar território de modo a diminuir as dificuldades resultantes das condicionantes como a REDE NATURA, por exemplo. Porque não motivar a implementação de uma actividade silvo-pastoril de transumância interna, permitindo a construção dos equipamentos de apoio onde há menos entraves e o pastoreio na serra do Montemuro?
É necessário perceber que a actividade económica mais relevante do concelho é mesmo o comércio e que cada vez se vêm mais estabelecimentos a encerrar ou em piores condições. Porque não criar programas de apoio à recuperação dos estabelecimentos comerciais e incentivos regulares à compra no comercio local?
Ficam as dicas para uma futura reflexão. Fica também a certeza de que voltar ao antigo normal não é boa opção para um Concelho como Castro Daire. Parece antes ser apenas uma questão de sobrevivência pessoal de alguns à custa de todos.
Carlos Bianchi
Nota: No texto tinha identificado, como via que atravessa o concelho, a N226. Na verdade, queria identificar a tão ignorada e prometida EN 225. As minhas desculpas pelo erro e bem-haja a quem deu conta do erro.